Lembro-me perfeitamente do dia.
Manhã fria e chuvosa, saímos como todos os dias ás 6,30 da manhã.
Era assim nesses tempos, os miúdos saíam de casa pela madrugada e voltavam noite cerrada. O convívio com os pais era muito restrito.
Depois da volta habitual; Chança, Cunheira, Monte da Pedra, Aldeia da Mata, Flôr da Rosa, Crato e Alter, onde chegávamos depois das 8:00 horas, parávamos frente ao portão do colégio particular. Rapazes para um lado, raparigas para outro.
Mas nesse dia havia algo diferente no ar.
No átrio das salas de aula, as funcionárias; Menina Teresa e Menina Antónia, ouviam um pequeno rádio onde não cantava o Mourão, o Artur Garcia, a Tonicha.
Tocava coisas diferentes.
Havia uma música ritmada que falava de fraternidade, de igualdade, de povo.
Acho que nos mandaram para casa a meio da manhã.
E eu, miúdo de 14 anos, nem fazia ideia o quanto o meu mundo tinha mudado naquela madrugada.
Saudade, motivo que aflige sem uma causa própria.
ResponderEliminarSensação de angústia quando se está em liberdade.
Um sufocar tão puro e amargo, de algo bom que passou.
Saudade que arranca de meus braços as sensações belas e confortantes, que já foram embora.
Mas está aqui ainda, está saudade, todo dia, para provar, só para isso.
Provar que tudo aconteceu, que eu vivi e clamo por isso.
Faz sentido... o passado válido...
Válido toda essa alegria...
Beijos...
Lú
Fizeste-me lembrar o dia, ou melhor, a madrugada.
ResponderEliminarO telefone tocou às 5,30 da manhã.
"Desculpe, minha senhora, a minha chamada foi de novo parar a sítio errado....a senhora sabe o que se está a passar? Houve uma revolução, há tropa por todo o lado".
Liguei o rádio: música militar.
"Vamos dormir, 'isto' não tem nada a ver connosco"
Mas um certo desassossego impediu o sono.
"Vou ver o que se passa..."
"Espera, eu também vou!"
"Com essa barriga, 'tás doida?"
(a Rita nasceu 2 dias depois, 3 semanas antes do previsto)
Eheheh
ResponderEliminarTitas, a tua cria estava mortinha por viver em liberdade.