domingo, dezembro 22

MENSAGEM DE NATAL



Há dias, fizeram-me uma proposta a que eu julguei não ser capaz de corresponder, escrever uma Mensagem de Natal. Mas, como não fui nunca de desistir sem tentar, aqui fica.

Natal é …

Natal é luz, calor, decoração. Numa tentativa de escapar ao cinzentismo da época, terão nascido as hoje imprescindíveis luzes e decorações dos aglomerados populacionais e o tronco, que todas as casas queimam na lareira, uma maneira de fugir aos rigores do Inverno. Mas luz, a verdadeiramente importante, é a que se pode beber nos olhos de uma criança ao abrir o tão ansiado presente, ou o avivar do olhar dum idoso na paz de toda a família reunida à volta da mesa.

Natal é gastronomia, que para nós antigamente sempre de míngua à mesa, era a época de comer bem, com alguns dos exageros que a vida não permitia noutros tempos. As heroicas mulheres alentejanas, com os nossos produtos, sempre fizeram maravilhas. Produtos tão pobres, como o nosso trigo feito farinha, os ovos, o mel, o grão, a batata, o mogango e o nosso azeite único, tornam-se dignos de tanta riqueza, que adquiriram a honra de subir à mesa do pobre.

Natal é, acima de tudo a festa dos afetos, do aconchego, de estar presente. Quem dera que esta sala fosse tão grande, para que num mundo perfeito, como se quer nesta quadra tão especial, nela tivessem lugar à mesa todos os que estando ausentes, são presença viva nos vossos corações, tão precisados de atenção e carinho, que na correria diária é humanamente impossível proporcionar-vos, apesar do estoico esforço e boa vontade.

Natal é música, (cantes de Natal sempre belos), fé, (para os crentes), e solidariedade para os homens de boa vontade. É porta aberta para quem queira entrar e pão e vinho sobre a mesa, como diz a canção, dividir o pouco por muitos, traz a gratidão de quem recebe e uma imensa felicidade a quem partilha, porque só o dar e o dar-se é melhor que receber.

Natal é simplicidade, gestos puros, olhar o outro de braços e coração abertos, como se o próximo fosse aquilo que é, nosso irmão. Mas, o ideal seria conseguir superar a época e fazer o Natal transpor o final do ano e prolongar-se, fazendo de todos os dias a festa dos afetos. Se Natal é quando um homem quiser, quem o impede de o querer todos os dias? Um querer de coração, pode fazer a Multiplicação do Amor.

Natal é, para os que aqui vivemos como uma família, mesmo ansiando mais saúde, termos que aceitar viver com a que temos, viver um dia de cada vez, e cada Natal como cada dia. E amanhã, no próximo Dia de Natal, estarmos todos por cá.

Natal é hoje, para quem continua esta aventura de viver.

domingo, dezembro 8

CRÓNICA DE UM QUALQUER DOMINGO



Deitado e imóvel, nesta gélida madrugada de Dezembro, fecho os olhos e procuro-me. Quem me olhe, jurará que estou dormindo, mas nunca estive tão desperto, tão completamente consciente de mim. Perscruto todos os meus recantos, com todos os sentidos alerta, olho-me no espelho interior e busco o que fui, o que sou e a projeção de um futuro, que ainda me amedronta.

Não sei de onde sou, muito menos para onde vou, só sei, pelo meu saber pressentido, que não sou daqui, este não é o meu lugar, mas algures longe, em busca de viver.
Não me vou entregar à cómoda realidade de sobreviver. De preferência, morrerei a procurar-me, sem a mínima certeza de me encontrar fora de mim, como o logro no âmago do meu interior.
Não sei se alguém entenderá estas palavras, hoje resolvi não escrever para o vulgo, para a imensa mole de nados mortos que me rodeiam e que nada me dizem, nem nunca saberão de mim, coisa nenhuma. Esta sociedade está cheia de gente de estar, os nados mortos, que nunca chegarão a ser, nem a entender-se. Porque a gente só nasce, quando sente a dor do parto, só nesse momento, se deixa a condição de estar, para ser. E muito poucos que conheço o conseguiram.
Lembro-me da sensação de ter nascido, da dor que senti naquela tarde que recordo, sem lograr situar no tempo. Recordo ter tido a consciência do nado morto que tinha deixado de ser naquele instante, para me tornar o homem nascido, que hoje se escreve, para os poucos que me entendem.
Nesse momento, venci o medo da morte.
Nesse momento, percebi que só se deve temer o que não se não estende.
Nesse momento, iniciei a longa caminhada para controlar os medos, que está ainda só no começo.
Nesse momento iniciei a minha viagem consciente, que sei exatamente quando vai terminar, no instante da minha morte.

sábado, dezembro 7

ESTOU DE VOLTA



Bom Dia

Porque hoje é sábado, volto com um desabafo indizível.
Cavaco Silva, (cuspo), vai representar Portugal nos funerais de Mandela.
Depois de ter votado contra, aquando Primeiro-Ministro, uma Moção das Nações, que pedia a libertação do preso político Nelson Mandela, o Presidente mostra ser uma personagem sem hora nem vergonha.
Cada vez sinto mais asco, por haver portugueses como este, que nojo.