segunda-feira, outubro 31

Impossibilidades


Uma amiga propôs-me escrever um conto, inclusivamente ofereceu-se para me ajudar. Eu ponderei a ideia, achei-a engraçada e tentadora, mas depressa desisti.
Eu já tentei adaptar um conto. Comecei a reescrever a ideia e cheguei mesmo a ter escritos, três capítulos completos que, perdoe-se-me a imodéstia, achei mesmo muito bons. Mas parei por aí, não consegui continuar.
Nessa altura, e continuo na minha, cheguei á conclusão que não tenho alma de contista. Eu não sei escrever comprido, as minhas histórias são curtas, necessariamente.
Se eu tiver que descrever uma árvore, escrevo só “uma arvore”, e deixo ao critério de quem lê, a textura do tronco, o número de ramos, a cor das folhas. Na descrição de uma mulher, falo dos olhos, ou do sorriso, deixo para os leitores, imaginar a maneira como a quer vestida, ou o que quer que ela diga, como se exprima.
Há dias tentei escrever “Um Conto”. E de tão curto que ficou, não lhe pude chamar mais que “Cem Escudos”.
Não volto a tentar tão cedo…

sábado, outubro 29

Dia A Dia


Fez ontem um ano que a minha vida mudou.
Não foi uma mudança física, notada a olho nú.
Foi mais uma outra visão da vida que me chegou.
Eu fui mudando aos poucos, mas sempre no mesmo sentido
Aos poucos no início, depois mais vigorosamente…
A falta de ânimo que me ia assaltando, cedeu
Tornei-me mais afirmativo, mas também mais ponderado, influências…

Fez ontem um ano que a minha vida ganhou outra graça.

Desabafo

Um dia, plantei uma árvore num lugar ermo, para viver um sonho.
Á sombra dela, eu sou o que quero, porque a minha imaginação não tem limites.
Posso ser um simples ouriço carinhoso, ou um príncipe ambicioso que quer abraçar o mundo.
Mas eu sou extremamente livre, não aceito barreiras a cortar-me as asas.
Os meus limites só são ditados pela minha consciência.

sexta-feira, outubro 28

Ostensivamente


Continuo com um pouco de raiva do mundo. É quinta-feira, 13:00 horas e eu estou ainda um pouco ferido. Óptima hora para ajustar contas com ele, (o mundo que me rodeia). Quando solto todas as amarras e fico só eu e a minha consciência, sou capaz de buscar o bom e o mau que há em mim, sem pensar em pôr barreiras. E todos os valores que respeito por dever de convivência, ficam relativizados.
Este soneto foi escrito há muitos meses. Nunca o divulguei, p’ra não chocar, e só o dei a conhecer a alguns poucos amigos. Chegou agora a ocasião de o editar, ostensivamente, talvez mesmo como provocação às mentes menos abertas.
  
A Um Amor Ausente

Andava eu, destas coisas distraído
Sem cuidar, ter noção, saber sequer
Que lá no fim do mundo, uma mulher
Sonhava ter-me um dia por marido.

Após toda uma vida, triste e dura
De dias, meses, anos, só de dor
Descobrir ter direito a um amor
Um pedaço de querer e de ternura.

Sabemos não ser raro que aconteça,
O acaso nesta vida nunca pára,
P’ra quem por mera sorte, ou o mereça,

Suceder à noite escura a manhã clara.
Mas nunca me passou pela cabeça,
Descobrir ganhar um dia, o amor da Mára.

(Joaquim António Godinho)

quinta-feira, outubro 27

Cansaço - Fernando Pessoa

Obrigado Léia, pela lembrança.
Eu estou um pouco assim...

Raio de Sol

Hoje não acordei bem.
Após uma noite mal dormida, chegou-me um raio de sol na manhã cinzenta.
Deixo aqui o primeiro mail que li hoje.

":))) às vezes sinto-me culpada por não me aperceber desse teu acordar diario. 
costumo sentir uma imensa empatia pelo sofrimento dos outros, ao ponto de sofrer também de uma forma perigosa.
mas contigo não. sempre te vi de janela escancarada para o mundo, olhar minucioso, e bem contigo próprio. 
um homem cheio de sol e senhor do seu nariz :) 
ouriço de uma figa. espero que sejas feliz hoje"

Desculpa o abuso, mal fez-me muito bem.

quarta-feira, outubro 26

“Silêncio de Ouro”

Quer queiras quer não, só tens duas hipóteses; vives a tua vida, ou desistes dela.
Eu decidi não desistir, aliás, decido todos os dias. Quando pela manhã avalio o meu fardo e não o acho mais pesado, penso; “dá para continuar, tenho mais um dia”. E tenho mais um dia para viver uma vida que só eu posso, porque é minha, e é a única que tenho.
Aprecio o sol, que também é meu, e fico contente por ter mais que muitos, e feliz por ter pessoas, por ter conseguido mudar o meu mundo.
Mas principalmente por saber pesar o que fui, olhar para trás e entender-me.

Antigamente eu olhava sem ver. No meu mundo havia pouco sol. Mesmo quando se deixava ver, trazia sempre um manto diáfano a mitigar-lhe o calor. Nunca vi o céu acender-se de estrelas cadentes, nunca passaram. Se alguma outra estrela alguma vez me alumiou as noites, esteve sempre tapada pela abobada de nuvens que me cobria constantemente.
Eu era um misto de mim e de quase nada, não tinha sonhos, vivia todos os dias de maneira igual, sem interesse.

Um dia apeteceu-me dizer; “fica”. Milhentas de vezes me subiu esse desejo á garganta e outras tantas o engoli em seco.
Olhava-me e não encontrava nada de bom para oferecer, nem tinha mesmo, nem o desassombro de dizer coisas.
Preferi, talvez por um saber empírico, “o silêncio de ouro às palavras de prata”. Calei-me para não ouvir um mais que certo “não”. E embarquei na acalentadora ideia de que talvez, se eu tivesse tido coragem, ouviria outra resposta.
E isso deu-me forças para continuar, apesar de tudo. Saltar novas barreiras, calcorrear outros caminhos, encontrar-me de novo.

E ir ao encontro do meu futuro que é hoje.