quarta-feira, outubro 19

Incertezas


A chuva leva-me pela correnteza,
Meus pés e cabelos ensopam-se
Com as insidiosas diárias incertezas
Que  no andar sofrido as certezas solapam-se.

Finge-se que não entendemos
Fazemo-nos de tolos e infantis,
Encarar aquilo que não entendemos,
O passageiro rugir de toques subtis.

As poesias que nunca são nossas,
As carícias que iremos sempre dividir,
O pousar solitário das eternas fossas
Que jamais teremos coragem de repartir.

A guerra dos egos sempre presente,
Cada um lutando mais ao sobressair,
O olhar lá longe, distante, ausente
Fortes, com o peito magoado a sair.

Ficar na janela vendo o desfile de gostares,
Os amuos que nunca serão por nossa causa,
O pesado fardo da indiferença, atares
A vida passando entre o atalho e a pausa.

As palavras de amor que serão de outrem,
As agonias da espera que serão minhas,
Os prazeres verdadeiros no distante trem,
O trilho escorregadio, navalha afiada em que caminhas.

(Cloé Madruga)

1 comentário:

  1. Incertezas...

    Estou a sentir...
    Estas palavras...
    Não foram escritas para mim...
    Não foram publicadas para mim...

    Mas será que alguém...
    As mereça mais do que eu ?

    Não sei...
    Mas o tempo dirá...
    Com certeza...

    Quem sabe ...
    Um dia ...
    Reconheças-me ...
    Nestas lindas linhas ...

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