domingo, maio 27

Resposta a "Texto Confuso"

Se caíres por aqui vou estar atenta
Para te amparar na queda se puder
Esse raio que apanhaste de luz lenta
Apagou, já não tem luz, já não vai ter
 
Não se pode confiar num raio qualquer
de luz, ou raio de gente também não
Poucos  gostam de dar, querem é ter
Tu deste-te todo à luz, o raio não
 
Agora queres vingar-te, olha o meu espanto
da nuvem?  Que trabalhou, a pobrezinha
vinga-te antes do raio, dá-lhe outro tanto
A nuvem deu o corpo, era o que tinha
 
Se caíres por aqui, sou teu suporte
vou mostrar-te a Luz que me ilumina
e ampara no caminho,  uma Luz forte
Que eu conheci era ainda pequenina
 
(a.m.v.a.)

sábado, maio 19

Gestão do Tempo


Como é do conhecimento de todos, eu sou muito caseiro, feitios…Então uso os “chats” para comunicar, é uma ótima maneira de ter sempre a conversa em dia.
Há tempos uma amiga perguntou-me, “O que fazes?”, eu respondi, “Faço tempo”. Ela achou muito original, ao ponto de agora me cumprimentar quase sempre com a mesma pergunta, e eu respondo com uma gargalhada.
Eu costumo dizer que o tempo só existe para quem o mede, para mim, medi-lo é fazer o meu tempo, adaptar-me a ele ou usá-lo como preciso. Porque o meu tempo é o de todos, a diferença, é como cada um o preenche, ou se espraia nele.
Divido o meu tempo em partes quase iguais, onze horas de descanso e treze de vigília.
Não, não durmo mais que seis a oito horas, no resto do tempo penso, ou então escrevo. Sim, gosto de escrever durante a madrugada, escrevo de memória, quando ela está fresca, após o sono reparador. Tenho as ideias, fixo-as, desenvolvo-as e guardo cá dentro, quando pela manhã me sento ao computador passo tudo para o word.
As horas de vigília são divididas entre higiene, alimentação, escrita, conversa, etc.
Neste momento estou a escrever muito pouco, é uma espécie de época de resguardo. Estou falho de imaginação, procuro novos caminhos.
Costumava ocupar grande parte das minhas horas com o blog, que escrevo há oito anos, mas com a crise de escrita, está um pouco ás moscas.
Muito do meu tempo livre passo no Facebook, onde tenho uma página que considero muito boa, tenho um Grupo e colaboro nalguns Grupos de Poesia. Mas o que gosto realmente é de conversa.
O meu compadre Carrapato de vez em quando visita-me, chega com o ar respeitoso de sempre. É um homem que inspira confiança, vê-se á distância que traz consigo uma imensa bagagem de saber empírico. Fala devagar, como um amigo e diz sempre alguma coisa inesperada, daquelas verdades muito óbvias, depois de ditas.
No último encontro trazia nos olhos uma luz nova, como quem olha as coisas pela primeira vez e um sorriso travesso nos lábios. Não lhe perguntei o motivo, porque a nossa relação não é feita de perguntas. De motu próprio nos damos as respostas quando estão maduras, elas, as respostas e nós dois.
Depois de uma hora despediu-se da mesma maneira de sempre, mansamente, com um “santas tardes, compadre” e eu fiquei a dizer com os meus botões; “aqui há gato…”.
Assim vou fazendo o meu tempo, produto das minhas circunstâncias. A não ser elas, não teria necessidade de fazer tempo, faria outras coisas.

terça-feira, maio 15

Texto Confuso


Hoje perdi-me de mim e não me encontro
Estava triste a meio da tarde e resolvi cavalgar um raio de Sol
Subi por ele como escada, ou como quem puxa um fio de lã
Era quente e suave o meu cavalo feito de luz e eu feliz sorria

O meu céu nublou-se, escureceu e eu senti-me cair
Uma nuvem negra, com cara de poucos amigos...
Ousou roubar o meu Sol e cortar o raiozinho que eu monta
Eu caí desamparado não sei onde, não me encontro

Se alguém me vir por aí nalgum caminho escuso, desnorteado...
Ensine-me como se volta a subir num raio de luz
Que eu quero punir a nuvem que me roubou o Sol

domingo, maio 13

Desculpem qualquer coisinha...


Eu tenho andado por muitos grupos de poesia, por lá conheci alguns poetas e outros… Com todos aprendi, com a esmagadora maioria como não se deve escrever, os que se autointitulam. Á custa de tanto ouvir, hoje acordei com poetice aguda. A coisa é grave, hoje sinto-me poeta e escritor de canções, felizmente isto passa.
Mas até não passar, vão ter que aguentar o meu desvario. Deixo-vos um fado.

FADO DA MERETRIZ

De peito ao léu e saia p’la cintura
Numa esquina ensolarada da cidade
Vendia-se a toda e qualquer criatura
Que lhe pudesse pagar p’la felicidade
Vendia-se a toda e qualquer criatura
Que lhe pudesse pagar p’la felicidade

De tanto apanhar sol na moleirinha
Após tantos anos a rodar bolsa
Ganhou uma cor pró amarelinha
E deu de se sentir fraca a pobre moça
Ganhou uma cor pró amarelinha
E deu de se sentir fraca a pobre moça

Ao ver-se a perder a clientela
Em vez de lamentar a sua sina
Percebeu que o problema estava nela
E resolveu consultar a medicina
Percebeu que o problema estava nela
E resolveu consultar a medicina

Ao vê-la diz o doutor, - mas o que é isto?
Como tu consegues estar inda em pé
Com esse melanoma e esse quisto
Vou já agora internar-te em São José
Com esse melanoma e esse quisto
Vou já agora internar-te em São José

Salve-me por mor deus senhor doutor
Que eu preciso mesmo muito trabalhar
Não posso dar minha alma ao criador
Tenho os meus sete filhinhos p’ra criar
Não posso dar minha alma ao criador
Tenho os meus sete filhinhos p’ra criar

Para todas estas crianças sustentar
Isto sem aturar nenhum estafermo
Para pouco trabalho e bem ganhar
Tornou-se Assessora do Governo
Para pouco trabalho e bem ganhar
Tornou-se Assessora do Governo

Logo que começou a melhorar de vida
Mudou-se da Buraca p’ra Brandoa
E se deus a proteger nesta subida
Ainda um dia vai p’ro centro de Lisboa
E se deus a proteger nesta subida
Ainda um dia vai p’ro centro de Lisboa

Agora o ser rica já me não basta
Quero aparecer em capas de revistas
E se a vida não me for madrasta
Ser melhor que a Assunção Cristas
E se a vida não me for madrasta
Ser melhor que a Assunção Cristas

Nunca eu vivi assim em tempos idos
Que bom tê-los aos sete todos aqui
Vamos ter uma vida sempre unidos
E poder ver todas as novelas da TVI
Vamos ter uma vida sempre unidos
E poder ver todas as novelas da TVI

- j a godinho -

quinta-feira, maio 10

(Escrever Sem Rede)


Procuro-te

Procuro-te no mais fundo da minha memória
Sei que estás lá, indelével, mas presente
Sinto-te os passos nos meus ouvidos
E as tuas mãos brincam com os meus sonhos

Adormeço, e saio de mim
Vou para algum lugar que não entendo
Pode ser algures no passado
Ou quem sabe, seja uma lembrança do futuro

Lá, não somos tu e eu, mas uma mistura de nós
Somos, uma pequena ilha rodeada de mundo
Suspensos entre a realidade e os sonhos
Mas paradoxalmente, todo o nosso mundo é palpável.

Hoje é dia de escrever como gosto, sem rede, ao vivo. Talvez por estar sol, as palavras andam á solta e passam por mim. Eu agarro-as e faço ideias arrumadas como parede de tijolos. È dia de plantar palavras, hoje.

segunda-feira, maio 7

Nos braços da solidão


Não me peçam p’ra viver
Sem um amor ou paixão
Espelho onde me rever
Para a vida ter razão

Não me peçam p’ra viver
Nos braços da solidão
Sem ter nenhum outro ser
Capaz de me dar a mão
Nem na hora de morrer

Sem um amor ou paixão
A vida não tem sentido
Sem alguém no coração
Um querer mesmo sofrido
Quem nos levante do chão

Espelho onde me rever
Uma mulher, um carinho
Um motivo p’ra vencer
As agruras do caminho
Quando vou desfalecer

Para a vida ter razão
Não viajarmos sozinhos
Ter sempre a cada estação
Quem vá e afaste espinhos
Viver só? Isso é que não!