terça-feira, janeiro 31

O Eu, Por Mim

Este sou eu, um mendigo de emoções.
O que trago enleadas nos meus dedos,
Outras vidas, que são sinónimo de medos,
De quem vive e se alimenta de ilusões.

Carrego em mim uma panóplia de canções,
Faço versos e escrevo prosas de enredos,
Velhos contos, história simples, sem segredos
E com todos eles, vou expressar mil sensações

Faço da escrita o meu labor quotidiano.
O que me custa um absurdo de trabalho.
Que quem diz fácil escrever, é puro engano.

Eu escrevo, corto, colo, reescrevo e atalho.
É uma rotina, todos os dias, todo o ano.
Para no fim, nunca saber o quanto valho.

2012 01 28

Irmã

Gosto de escrever os teus olhos,
Que são doces.
São como fontes de clara limpidez
Lagos cristalinos de luz e amor.
Trazem um passado que não tivemos
E promessas de um futuro bonito.

Que eu nunca vou querer perder.

2012 01 18

segunda-feira, janeiro 30

Não é fácil…

Não é nada fácil viver sob a minha pele.
Alongar a vista e antever tantas certezas dúbias
E pensar que todas a minhas dúvidas serão certas.

Não é nada fácil abraçar um feixe de muito pouco.
Ter um presente ausente, tão longe de mim
E como horizonte um teto de plúmbeas nuvens.

Não é nada fácil ter esperança no amor
Quando um palmo á frente do nariz já se pinta de negro
E os amanhãs não cantam, nem cantarão jamais

Não é nada fácil pensar que tudo passou
O deslumbramento de te conhecer, o sonho de te ter.
E o perder-te, foi a história de toda a minha vida.

Não é nada fácil, sabias?

2012 01 27

domingo, janeiro 29

Mágoa

Era uma vez um homem a quem a vida um dia fechou no seu labirinto interior. Quanto mais aprendia do mundo e de si, mais longe ficava da vida e dos outros.
Um dia percebeu que á falta de falar com os que o rodeavam, não conhecia mais o som da sua voz.
O tempo passou.
Á custa de muita ajuda e muito querer, conseguiu rasgar o véu que o isolava.
Anda por aí, a soltar sonoras gargalhada numa vida um pouco insana para ser suportável.
Não tem medo de ofensas e acusações, responde com sobranceria ou desdém.
As contrariedades fortalecem-no, reforçam-lhe o ânimo, mantêm-no agarrado á vida.
Só tem mesmo medo do “descaso”. Uma frase tão simples como; “não quero falar contigo”, trazem-lhe de volta os fantasmas que tenta a todo o custo esquecer.

Porque prefere morrer a voltar atrás

sábado, janeiro 28

Quadras Soltas

Ainda não me encontrei
Na estrada da minha vida
Voltar atrás eu não sei
Que o viver é de seguida

Não pode não dar por si
Quem vive de caminhar
Porque esta vida é assim
Só ver o tempo passar

Estas coisas da emoção
Deixam-me sempre a carpir
No peito a desilusão
E este pavor do por vir.

Ao ter o mundo nos braços
Um homem sabe o que quer
Perder-se em carinhos laços
Nos braços duma mulher.

Caro Geraldo não reclame
O seu amar não tem peias
Procure por uma que o ame
E deixe as mulheres alheias.

Mas quando por fim se alcança
É um fartar vilanagem
Mulher alheia não cansa
Sabe como a fresca aragem.

Mulher alheia muito olhar?
Não aconselho Geraldo
Há sempre um perigo no ar
Um marido enciumado

E inteirinha a madura
É linda, é sábia e gostosa
Sabe o que quer, é segura
E quando quer tão dengosa.

E que beleza, Deus meu
Que coisa linda de ver
Que um homem mesmo ateu
Pondera se converter.

Essa é grande verdade
O amor faz muito bem
Mas não é só por bondade
Que alguma nos quer tão bem

sexta-feira, janeiro 27

Paraíso

Ao ver-te deambular
Por entre trigos e flores
Fiquei rendido de amores

Trazias um jeito altivo
Leveza no caminhar
Um olhar de azul-vivo
E um certo dengo no andar
Ao ver-te deambular

Vestido de cor-vistosa
E blusa de duas cores
Porte de mulher formosa
Causadora de calores
Por entre trigos e flores

Nos malmequeres e trigais
Andei perdido entre cores
Soltei suspiros, mais ais
Ante a mais bela das flores
Fiquei rendido de amores

2012 01 26

quinta-feira, janeiro 26

Confissão

Trago na concha da mão
Uma certeza de amor
Um desatino sem dor
Que me enche o coração

Não temo a desilusão
És dos meus dias, a cor
Alegria, luz e calor
És o meu Céu e o meu Chão

Não és fruto do momento
És a pessoa mais querida
Completas-me o pensamento

Mulher que me dá guarida
Meu sol, meu contentamento
Tu és toda a minha vida.

2012 01 23

quarta-feira, janeiro 25

SEDA & VELUDO (Artes Livres)

Há dias o amigo Hélio postou esta quadra no SEDA & VELUDO (Artes Livres). 

DESCAMINHOS

-Veja: eis aí o caminho!
Foi por ele que eu andei.
E de tanto andar sozinho,
Ainda não me encontrei...

(Hélio de Freitas Coelho)


Nós tomámo-la como Mote e surgiram estas quadras ao jeito popular.

Ainda não me encontrei
Na estrada da minha vida
Voltar atrás eu não sei
Que o viver é de seguida

(Joaquim António Godinho)


Eu gostava de caminhar
Por esse mundo e por mim
Tão inteiro que ao passar
Nem sequer desse por mim.

(António Arlindo)


Não pode não dar por si
Quem vive de caminhar
Porque esta vida é assim
Só ver o tempo passar

(Joaquim António Godinho)

E ao ver só o tempo passar
Sofre uma desilusão
Deixou-o, ficou a olhar
E nem ganhou a emoção

(António Arlindo)


Estas coisas da emoção
Deixam-me sempre a carpir
No peito a desilusão
E este pavor do por vir.

(Joaquim António Godinho)

Que é parte boa da vida
Caminhar sentir os passos
Como olhar e respirar
É ter o mundo nos braços.

(António Arlindo)
Ao ter o mundo nos braços
Um homem sabe o que quer
Perder-se em carinhos laços
Nos braços duma mulher.

(Joaquim António Godinho)


Eu vejo a vida assim:
Mulher bela, muito bela
Que nunca olha p’ra mim
Eu sempre olho p’ra ela.

(Geraldo Aguiar Ribeiro)


Caro Geraldo não reclame
O seu amar não tem peias
Procure por uma que o ame
E deixe as mulheres alheias.

(Joaquim António Godinho)

Mulher alheia e bonita
A que nos prende o olhar
É como estrada infinita
Que cansa sem lá chegar.

(António Arlindo)


Mas quando por fim se alcança
É um fartar vilanagem
Mulher alheia não cansa
Sabe como a fresca aragem.

(Joaquim António Godinho)

Infinito não se alcança
Nem sequer mulher alheia
E há sempre a desesperança
De a posse a tornar feia.

(António Arlindo)

Se eu olhar todas que vejo
Causará indignação
Olho a mulher que eu desejo
Que me toque o coração.

(Geraldo Aguiar Ribeiro)

Mulher alheia muito olhar?
Não aconselho Geraldo
Há sempre um perigo no ar
Um marido enciumado.

(Joaquim António Godinho)


Obrigado amigos, por este belo naco de poesia JAG

terça-feira, janeiro 24

Valsa dos Dias

O tempo corre, ontem, hoje, amanhã,
São e serão os mesmos dias, que são meus.
Os meus dias em tudo iguais, quase sempre

Passam na minha vida mansamente,
Como paisagens á beira estrada.
Ora monótonas e sonolentas, tristes
Ora diversas e cativantes, que prendem olhares

De quando em vez, há dia a tons de cinza
Dos que se prolongam e duram…
Duram, até quase ao infinito e cansam…

Ontem foi particularmente um dia sem luz
Porque fiquei sem a luz dos teus olhos negros
Que pintam todo o meu mundo de cores garridas.

2012 01 22

segunda-feira, janeiro 23

Soneto a um homem cínico.

FOME NEGRA

É verdade sim senhor
Vivem mal e passam fome
Tem dias que ninguém come
Na casa do Professor

A fome negra é tamanha
Lá na Quinta da Coelha
Que uma criada mais velha
Tem no cú teias de aranha

Na guerra para se encher
- Que venham todos, correi
Quando não há o que comer

Isto são coisas que eu sei
Passam as horas a ver
O vídeo do Bolo-Rei

2012 01 22

domingo, janeiro 22

De Coração Partido

Não é fácil a vida de quem é pobre. Eu sempre tive muito pouco, os meus rendimentos sempre foram “rés vês Campo de Ourique”. Raramente tenho sobras e trago sempre as minhas contas “na ponta do lápis”. Sempre assim foi.
Para quem nunca aprendeu a encurtar os meses e porque há um único Fevereiro, só lhes resta mesmo esticar os magros proventos, porque o dia trinta e um fica sempre bem longe.
O meu único bem, é o costume de quem tem pouco, habituei-me a viver com o que tenho, desde tenra idade.
Se nunca fui uma pessoa rica, bem pelo contrário, prezo-me de ser uma rica pessoa. Desenvolvi uma consciência social apurada, ao ponto de do meu pouco, repartir sempre com quem menos tem.
Afligem-me as dificuldades alheias, ao ponto de ontem ter ficado de coração partido, quando soube dos tremendos apertos financeiros por que passa o Casal Presidencial. É vergonhoso que num país respeitável e do primeiro mundo, o mais alto representante da Nação, possa vir a ter que recorrer á Sopa dos Pobres para poder suprir as suas necessidades alimentares.
Então, como o senhor está no norte, lembrei-me de pedir aos amigos da zona do Porto, para que cuidem da famélica criatura enquanto por lá perambular.
Amigos José Bessa e Sérgio Bessa, sei que são bons homens do norte e grandes respeitadores das instituições, então, apelo á vossa solidariedade humana, ou se mais vos agradar á caridade cristã. Ajudem o senhor professor Cavaco.
Sei que nada vos custará providenciar-lhe uma malga de sopa, um pratinho de tripas ou uma francesinha, (das do Porto, que nenhuma das verdadeiras terá estômago para ser comida pelo professor). Será um serviço ao país e um favor a este vosso amigo.
E por caridade, quando ele por fim descer para Lisboa, providenciem-lhe um bom farnel. Alguns chouriços, linguiças, uns nacos de broa, umas sandes de coiratos, papas de sarrabulho, etc. Tudo coisas simples mas de “sustância”, que as pessoas  mais precisadas querem é encher a pança, sem olhar á comida com que o fazem.
Façam-no de molde a que a mesa presidencial fique farta pelo menos durante duas ou três semanas. E por favor, umas garrafas de vinho, para esquecer a miséria.

Desde já, o meu sincero obrigado, meus amigos.

sábado, janeiro 21

Porque hoje é sábado...

Apetece-me escrever ao vento, sem destino.
São complicadas as amizades.
Nascem ao sabor do nada.
Uma conversa aqui, outra acolá,
Nada de importante, só o prazer da descoberta do outro.
Um dia descobrimos que cativámos e fomos cativados,
Sem dar por isso.

É muito bom ter amigos,
Principalmente para quem sabe que os amigos,
São "a coisa" mais preciosa do mundo.

Quando um dia, por algum motivo,
O convívio diário se interrompe,
Não fica o vazio, como seria de esperar.

A amizade continua de outra forma, em silêncio.
Os silêncios são mesmo de ouro, não é?


sexta-feira, janeiro 20

Escritas

Há poetas que dizem coisas interessantes
Trazem mensagem
Frases utópicas
Falam de flores
De paixões, amores

E há os outros, os poetas negros
De frases curtas
Escrevem á toa
Desenganos,
Dores,

Há os que cantam amarguras e desamores
São negros
Repetitivos
Tétricos
Chatos

Falam sempre do pior que há na vida,
Dor de corno
Abandono
Traição
Ciúme.

Amanhã, se eu um dia for poeta, só vou escrever as cores do Arco-Íris.

quinta-feira, janeiro 19

Evolução Política

“Temos que alcançar o futuro”
- Passos Coelho -

Eis aqui uma frase eloquente desse extraordinário engenheiro, (quiçá da Moderna ou quejandas), que temos como Primeiro-Ministro.
Antigamente, (quem acreditava que os animais falavam), estava convencido que o discurso do Coelho se limitava ao “é bom, não foi?” e á queda de costas depois, a bater as patinhas.
Agora não, este Coelho já se consegue projectar no futuro pós “keka”. Já se imagina no futuro a mordiscar um troço de feno, ou um granulado C- (qualquer coisa)

A isto chama-se; Evolução das Espécies

Mulher de Quarenta

Estou sentado á tua frente e olho o que foi.
Não é a foto de antanho, ou talvez seja eu,
Que te vejo com olhos de quem conhece.
A minha primeira impressão; curiosidade…

A blusa vermelha e aquele olhar lá do alto,
Nem podes imaginar como me intimidaram.
Mas havia o nome que me desafiava.
O nome e esses olhos doces, confiáveis.

Não resisti ao seu apelo meigo e mágico,
Algo me dizia que traziam algo de meu.
Eu vi-me neles, sem imaginar o futuro, hoje.
Mas sempre a pose intimidatória, de inacessível.

Vieram depois conversas infindas, mútua afinidade.
Não era só doçura que havia por detrás dos olhos,
Desses belos, confiáveis e doces olhos, esses olhos.
Havia também uma ideia de pertença, de dèjá vu,

Uma sensação que me é cara e pouco vejo.
Então fui percebendo com o tempo, que te amava,
Como se fosses aquela irmã que sonhei ter.

quarta-feira, janeiro 18

Mentirosa

Mentirosa!
Tu falas, falas,
mas acabas sempre por não me dar nada.
Depois deste lindo e bem sugestivo “volto logo”,
fiquei cheio de esperança.
Deixei a janela escancarada,
com estes frios…
atitude só desculpável por loucuras de amor. 
Não esqueci uma corda pendurada na varanda.
E o que ganhei?
Nada!
Passei toda a noite em claro, á espera, com frio.
Tu, mesmo que já não nos afrontem Montésquios e Capulletos,
tiveste medo, “faltaste ao prometido”,
como na canção do Tê e do Rui.
E eu aprendi uma “triste lição”.
A Credulidade é um pecado, que,
se esta tremenda constipação não me passa,
pode ser Mortal.

terça-feira, janeiro 17

Traquinas

Eu conheço esta menina,
de a ver deambular pelos campos da minha labuta.

É um pouco Maria rapaz, num corpo miúdo,
mas que se adivinha robusto.

Coroa-lhe a cabeça um emaranhado de cabelos negros,
que gritam falta de pente aos quatro ventos.

Tem um nariz fino e inquisidor,
que franze á menor contrariedade.

Os olhos são vivos e não se limitam a olhar,
vêm com interesse tudo por onde passa.

E descobre sempre o que há de mais belo
e importante em todas as coisas.

Atravessa muitas vezes o meu caminho,
em corridas desenfreadas.

Acena com gesto largo,
brinda-me sempre com um sorriso gaiato
e leva o meu coração preso nos seus cabelos negros.
Eu fico a inventar coragem para um dia lhe pegar ao colo
e carregá-la para o meu mundo.

segunda-feira, janeiro 16

Conversas Nocturnas

Sento-me á beira do mundo.
Há horas sem te encontrar
Se não vens, respiro fundo.
- Já me fugiu, quer’apostar?

E eu fico a esperar por ti,
Com esta angústia a crescer.
Pergunto, ao chegares por fim.
- Por onde andaste mulher?

Então eu ponho fingindo,
Um certo jeito ofendido,
Ela, responde sorrindo.
- Peguei no sono marido

domingo, janeiro 15

Ondas de Mar

As coisas más que ocorrem na vida
São sempre demasiado importantes.
Para nós, “o mexilhão”.
Vêm em alterosas vagas sucessivas
Que nos submergem como marés altas.

Quando esperamos pela calmaria,
Outra onda ruge de encontro á nossa praia.
E ainda não refeitos da anterior tempestade,
Urge proteger a cabeça com os braços,
Enrolarmo-nos sobre nós e esperar o embate.

Não é fácil passar uma vida na meia praia.

sábado, janeiro 14

Um Conto (partilhado)

------ A minha participação no blog “ Acrescenta Um Ponto Ao Conto” http://contospartilhados.blogspot.com/ , onde está a ser escrito o conto “O Fim da Inocência”, a várias mãos ------

O Fim da Inocência – Parte VI

(continuação)….

Depois do que disse ao pai, ficou silenciosa com o rosto colado ao vidro do autocarro pensando em como a sua vida tinha mudado nestes poucos dias. O pai conversava com outros passageiros, contando a sua curta estada no hospital, coisa que nunca lhe tinha acontecido, mas ela nem o ouvia, com os olhos fixos na estrada, não conseguia esquecer o Francisco e o nojo que lhe subia pelo corpo todo até á garganta.

À tardinha chegaram á aldeia e mal se desengalfinharam dos cumprimentos e desejos de melhoras, foram para casa. Estava tudo em ordem, a ovelhas no cercado, com ar de bem comidas, certamente os vizinhos teriam cuidado delas, ou quem sabe o Marco.

Laurinda fez uma sopa com verduras da horta, feijão e algumas carnes que comprou na aldeia, comeram em silêncio e sentaram-se ao lume, cada um fazendo o balanço dos últimos dias. O pai contente por estar de volta ao seu mundo, ela ainda com um gosto amargo na boca, mas com um misto de curiosidade pelo que anteviu do mundo.

Alguns dias depois de ter chegado, Laurinda encontrou Marco nos campos onde apascentava as ovelhas. Cumprimentaram-se timidamente e ela convidou-o a sentar-se, que lhe queria contar uma história. Sentaram-se lado a lado e Laurinda contou sem o olhar, tudo o que lhe tinha acontecido desde que Anísio adoecera na praça.

O rapaz, ficou de cabeça baixa, num longo silêncio. Passado um tempo que a ela pareceu interminável, levantou-se e foi embora sem dizer palavra. Laurinda quando chegou a casa, pediu ao pai o dinheiro que Marco lhe tinha emprestado, foi devolver-lho, agradeceu e nunca mais se falaram.

Duas semanas depois do ocorrido, quando Laurinda estava a estender roupa frente á sua casa, viu aproximar-se um estranho conjunto. Um homem montando um cavalo baio, com uma mula de carga pela rédea e ao lado um enorme cão. Enquanto se aproximavam, Laurinda ficou a olha-los intrigada. Era um quadro inimaginável para ela.

O homem chegou frente a ela, deu as boas tardes e pediu para falar com o dono da casa. Laurinda foi ás traseiras da casa chamar o pai, enquanto o estranho sem se apear, esperava. Quando Anísio chegou, o homem apresentou-se:

- O meu nome é Joaquim Carrapato, venho do sul e há dois meses que viajo com os meus animais a conhecer Portugal.

Contou que era pastor de profissão, possuía um rebanho de mais de mil ovelhas e tinha um pequeno pedaço de terra no Alto Alentejo, distrito de Portalegre. Tomava pastagens de aluguer e vivia do que o gado lhe dava. Estava em viagem para conhecer pessoas e lugares diferentes. Costumava acampar onde houvesse agua e alguém por perto. Passava uma semana, conhecia as redondezas e voltava a partir. Pediu para montar ali o acampamento.

Anísio gostou do ar sério do viajante, autorizou e pediu que logo que estivesse instalado que se dirigisse a sua casa, para jantar e conversarem. Não era frequente ele ter um parceiro de conversa ao serão.

O estranho esticou uma grande corda a meia altura entre dois carvalhos, estendeu uma enorme lona por cima e amarrou-a ao chão com quatro estacas de madeira. Depois, tirou arreios e carga dos animais e meteu tudo debaixo da lona. Feito isto, tratou deles, dirigiu-se ao poço para se lavar, foi bater á porta.

Laurinda espreitou tudo da janela. Era um homem alto e seco, na casa dos trinta anos, rosto curtido do sol e olhos claros. Reparou que o olhar dele não era saltitante como o dos rapazes da aldeia, nem frio como o do Francisco. Este viajante trazia lonjura no olhar, (mais tarde, veio a saber que na terra dele não havia serras, os homens podiam esticar o olhar até quase ao fim do mundo), daí a amplitude.

Anísio mandou-o entrar e ele fê-lo respeitosamente de chapéu na mão. Pediu que se sentasse á mesa e ficaram a jantar e depois a conversar por largas horas. Falaram da vida, dos usos e costumes das suas terras e o viajante falou dos lugares e pessoas que tinha conhecido. Laurinda, tratou da lida da casa, mas nenhuma palavra lhe escapou.

O homem tinha uma rotina, saía todos os dias antes de nascer o sol com o cavalo e o cão, (que era um rafeiro alentejano muito manso chamado Faísca) e voltava com duas horas de sol. No segundo dia, Laurinda quando estava sozinha, aventurou-se a ir meter o nariz debaixo da lona. A única coisa que lhe chamou a atenção, foi um bloco de notas onde o viu escrever. Tinha impressões dos lugares e das pessoas que tinha conhecido e muita poesia. Copiou esta que lhe chamou a atenção:

Aguarela Rural

Bem noite ainda, de um escuro imaculado
Vou para os campos de maresias e geadas
Ao som de chocalhos e balires por todo o prado
Abro o redil, escancaro todas as portadas

É um regalo ver as pressas dos carreiros
De ovelhas espalhando-se p’la ladeira
Procurando landes, sementes dos sobreiros
P’ra matar a fome duma noite inteira

Acolá a mãe que as recentes crias
Amamenta com um olhar de tal amor
Mal elas se distanciam em correrias
Lança um balido de cuidado e dor

Mais ao longe um casal enamorado
Investem no futuro do rebanho
É a natureza no seu jeito acostumado
De cuidar do meu pão e do meu ganho

Tanta alegria me dá este labor
De mourejar meus dias p’lo montado
Que sempre graças dou ao Criador
Por me fazer alentejano e guardar gado

(Joaquim Carrapato, pastor)

A rotina daqueles dias prosseguiu. Joaquim voltava á tardinha, tratava dos animais, jantava e era convidado por Anísio para conversar. Quando ele ia para a cama recuperar do cansaço, os dois jovens ficavam ainda á conversa. Ele contava-lhe histórias, lia o que escrevia e foi falando de como era a terra dele, a ponto de Laurinda, (que ele tratava por Laura), desejar conhecê-la.

Uma semana depois de chegar, Joaquim bateu á porta pela primeira vez sem ser convidado. Vinha agradecer a hospitalidade e despedir-se, tinha a sua viagem para continuar. Laurinda nessa noite chorou e quando ele de manhã estava para partir, veio despedir-se.

Ele deu-lhe um pequeno bilhete, um beijo no rosto, montou a cavalo e com os claros olhos marejados partiu a galope.

Dizia:
Sou um pastor sem rebanho,
A que há muito perdi o rasto.
Sem o cajado nos braços,
Só posso guardar os sonhos,
Que há dias trazes grudados,
Nas pontas dos teus cabelos.

Vou voltar, espera por mim, Laura.

sexta-feira, janeiro 13

A Árvore

Eu tenho uma árvore plantada no centro do paraíso
Não é um paraíso qualquer, que recebe todos os bons
E o nosso paraíso secreto, sem caminhos para lá chegar
Só nós temos a rota de acesso, só nós o podemos visitar

Sentamo-nos sob a árvore que há no centro, enlaçados,
Que paradoxalmente não é a "Arvore da Vida do Bem e do Mal"
Mas a "Arvore do Amor da Paz e da Concórdia"
Sentamo-nos…

E fazemos uma festa dos sentidos.  

quinta-feira, janeiro 12

Boa Notícia

De: Teresa queiroz
Data: 11-01-2012 16:26:56
Para: joaqgod@gmail.com
                   
Olá boa tarde  Joaquim :)

Queria comunicar-lhe que... o seu texto  "Em crise de palavras " foi escolhido pela Pastelaria Studios Editora para ser editado na:

 "Antologia Inverno - Acordando Sonhos".


A edição será produzida e realizada pela Pastelaria Studios Editora, consta de 45  poemas e textos, seleccionados entre tantos e tantos que nos chegaram.

Os nossos parabéns!
---//---

Em crise de palavras


Será que voltei aos meus problemas existenciais?
Não! Nada disso! O problema hoje é outro, e bem mais grave, acreditem.
Hoje estou sem palavras. Precisava de algumas daquelas fortes e impactantes, das que fazem abrir-se bocas de espanto, mas não me surgem de lado nenhum.
Eu costumo escrevê-las a eito, como árvores á beira da estrada e formar ideias simples e concisas.
Ou então dispondo-as de modo caprichoso, bem pensadas, fazem-se facilmente frases de encantar.

Mas hoje não as vejo, estou de mãos vazias. Acontece quando somos sujeitos de um gesto bonito e inesperado, ficamos sem palavras.
Ontem, roubaram-me todas as palavras e eu hoje não sei o que faça.
Porque eu sem palavras não escrevo.
E sem escrever não conto.
E sem contar não vivo.
A minha vida passa muito por aí, contar histórias.
Ou das falsas, de “era uma vez”, ou mesmo histórias verdadeiras, das que eu invento.

Com algumas poucas que me restaram, vou tentar contar uma história rápida e certeira:

“Duas mulheres que eu amo por demais, junta-se uma surpresa feita de bolo e carinho, dá como resultado a tarde mais bonita de que tenho memória”

Agora vai a passar um bando de palavras numa louca correria. Não as reconheço como minhas, mas posso usá-las enquanto estou em crise.
Estendo os braços e agarro umas quantas. Não são mais que meia-dúzia e uma vem repetida, mas servem, bem combinadas, para terminar a crónica.
Aí vai;

“Vocês encheram a minha vida de vida”

Agora é tempo de terminar e esperar que as minhas palavras voltem.

quarta-feira, janeiro 11

A Quatro Mãos

Ainda não é a minha pele, enganaste-te
De enganar-nos mutuamente nesta vida
Só os olhares interiores se reconhecem
Quando a separaçao nos causa escolhos

A ternura e o poder das palavras
Atenuam uma saudade estranha
Que sentimos sem saber o porquê
Um omnipresente querer, tao verdadeiro

Nascida de sentires, de gestos simples
Da rebaldaria do humor mesmo do insulto
Quando só queria que soubesses, te dizer:

Meu amigo, tenho tanto medo de te perder.
Vamos tentar aprofundar o que sentimos ?
Ainda não, é cedo, espera um bocadinho só....

(A.M.C. & J.A.G.)

terça-feira, janeiro 10

Dúvidas

Não sei se digo, ou me fico,
Se quedo mudo, ou se falo,
Toda a verdade que eu calo,
É uma informação que omito.

Ao serão sempre me estico,
Num amor sentido e claro,
P’ra ninguém botar reparo,
Nas noites, sempre sou rico.

Sentado á porta do fundo
E em conversas normais,
Tento brincar, ser profundo.

Horas em que outros demais,
Desde o princípio do mundo,
Soltam suspiros e ais.

segunda-feira, janeiro 9

Pássaro Negro

Por vezes a vida traz-nos surpresas bem agradáveis,
Uma troca de comentários, de um humor refinado,
Inteligência, cultura, escrita boa e repentista.
Tudo o que numa pessoa me entusiasma, me encanta.

Depois…
Seguem-se meses de conversas ao sabor do momento.
Trocam-se saberes, experiências tão díspares.
Fala-se da vida, de nós, chega-se a confidências.
Inter-age-se á distância e comungam-se palavras.
Nasce uma amizade pura e cristalina.

Um dia…
O já saber que essa pessoa não era livre, apresenta-se real.
E é um choque perceber o tamanho imenso do medo.
Um pássaro medonho de negro estende as garras e castra.
Uma castração não sei se desejada, mas consentida.
O talento, a inteligência, a cultura, já não moram mais lá.

Só restou o medo, só o medo…

domingo, janeiro 8

O amor é fodido *

Triste vida esta de hoje em dia, já não há valores
Ama-se e detesta-se como quem bebe um copo de água
Um dia, é-se tudo; o omnipresente na vida e nos sonhos
Depois, quando a febre dos sentidos passa, ou sei lá…
Detesta-se com a mesma intensidade insana de antes.

Porque que não pode haver meio-termo nos sentimentos?
É saudável que depois de um amor, haja transformação.
É muito normal que as pessoas se enganem; erros de avaliação.
Mas já não é lógico que o tanto se transforme no seu contrário,
Sobretudo quando se “sonham” pessoas constantes.

E havia juras de amor eterno… (durmo agarrada a ti)

•    Parafraseando Miguel Esteves Cardoso

sábado, janeiro 7

Porte Ouverte

Mon amie, est-il arrivé le moment d'écrire pour toi ?

Je pense qu'il est tôt encore, trop tôt
Il faut que j'attende que les grains de poussière retombent
Et laisser refroidir l'instant de «nous connaître»

Tu m'es arrivée avec un «goût» sur le bout de tes doigts
Et tu en a saupoudré mon monde en abondance
elle fût très bonne cette arrivée grosse d'éloges

Que c'est bon pour un homme sentir son ego stimulé
Principalement après avoir vécu dans le manque
Dans un désert aride d'éloges, pendant toute une vie

Maintenant je me sens le crapaud après le baiser tant désiré,
Mon firmament compte une étoile de plus
Je sais que le prénom Amalia ne me parle pas seulement de fado
Cela peut être aussi le prénom d'une grande amitié.

Tradução de Amalia Melo Costa

SEDA & VELUDO (Artes Livres)

sexta-feira, janeiro 6

Serões Mágicos

Quando o Sol se deita, de cansado
E milhões de estrelas se acendem,
Eu abro uns braços, como asas
E galgo milhas de mares revoltos.

Então, encontro-te a meio caminho,
Olhamo-nos fixamente nos olhos,
Multiplicamos sorrisos cúmplices
E rodopiamos enlaçados, sobre as ondas

Nessas horas de intensa comunhão,
Eu vivo num outro planeta, de dois sóis,
Que emitem uma luz intensa e negra,
Da cor do brilho mágico dos teus olhos.

quinta-feira, janeiro 5

Porta Aberta

Achas que já posso escrever para ti amiga?

Eu penso que é cedo ainda, muito cedo.
Devo dar tempo a que assente o pó suspenso no ar
E deixar esfriar o momento do; conhecermo-nos.

Chegaste com um “gosto” largo na ponta dos dedos
E espalhaste-o pelo meu mundo, prodigamente.
Foi muito boa, essa chegada prenhe de elogios.

Como é bom um homem sentir o ego estimulado!
Principalmente depois de tanto se viver em falta,
Num árido deserto de elogios, a vida inteira.

Agora eu sou o sapo, depois do ansiado beijo,
O meu firmamento encheu-se com mais uma estrela
E eu sei que Amália não me fala só do fado,
Também pode ser o nome de uma grande amizade.

quarta-feira, janeiro 4

Idílio no Escuro

Procuro-te com os meus dedos bem abertos
A direcção ainda não está apurada, como quero
No entanto o meu coração vê-te, no escuro
Sinto-te no breu imenso deste quarto frio

Oriento os meus passos errantes
Que ainda estão um pouco desviados
E escuto o silêncio que me envolve
Nos envolve…

Sabes?
Não é fácil o encontro de quem nunca se viu
É preciso confiar nos sentidos, estar atento.
Abrir toda a percepção para o outro, que está perto
Que se sente por todo o lado e se anseia

Ah já estás aqui, encontrámo-nos
As nossas mãos já se tocaram, por segundos
Beijaram-te o rosto muito leve, levemente
E ficamos assim, na quietude mansa de estar juntos.

(A.M.C. & J. A.G.)

segunda-feira, janeiro 2

Muito que bem

Delirante!
A mensagem de Ano Novo de Cavaco
O homem continua com amnésia
Ainda não lembrou de quando fez a escritura da Quinta da Coelha.

Nuit Noire


Je viens de me coucher
la nuit est noire couleur de jais
pour seul plafond, le Firmament,
étoilé et scintillant

Emerveillement sans égal
un homme, même athée
pense en lui-même - « mon Dieu
j'ai envie de prier »
Une voiture passe sur la route
la chienne aboie avec fracas
« Eh Catita, fermes-la »

La fatigue m'accable
je ferme les yeux et de suite
je suis dans les bras de Morphée

Tradução de Amlia Melo Costa

domingo, janeiro 1

Boas Entradas

Hoje não me apetece escrever nada,
São dias de "lazarite aguda" que me assolam.

Mas não vou ficar sem assinalar o dia.

Que este 2012, não seja nada do que parece vir a ser.