sexta-feira, abril 27

Escrever ao vento

Tento escrever ao vento, sem nada para dizer
Convoco as palavras que me cercam e que doidas me tentam fugir
Eu e as palavras não nos damos
Comportam-se comigo como antigas namoradas traídas
Estão sempre a tentar fugir dos meus textos, por vingança

Tento agarrar esta que aqui vai, "imaginação", mas não me espera
- Vem cá traidora, aproveitas que eu hoje trago braços curtos...

É assim a vida, hoje não consegui agarrar a "imaginação", só a "teimosia".
E escrevo-me sem ter nada para dizer, mas insisto.
A "insistência" é minha amiga, raramente me abandona.

Gosto de quem escreve sem querer dizer nada, sem dar lições.
Quem tem muito para dizer torna-se quase sempre chato, cheio de pose.
Os discursos balofos entediam-me até ás nauseas.
Detesto poetas convencidos que escrevem meias frases como se fossem versos
Eu escrevo textos curtos porque não consigo fazer melhor.

Os curtos escritos que faço dão a medida exata das minhas ideias, curtas...
E detesto que lhe chamem poesia, porque eu não sei "condensar o mundo num só grito".

quarta-feira, abril 25

38 Anos


Onde foi que te perdeste de nós
Que caminhos trilhaste nestes anos
Vejo-te e não te conheço
Mascarado de faz-de-conta

Já não és puro e cristalino
Tornaste-te num macaquear de ambições
Oferecidas por quem te tem como refém e te utiliza
Hoje és a sombra do que foste e eu não te reconheço


(escrito na hora)

domingo, abril 22

Por encomenda


Pediram-me que escrevesse sobre Alter e eu tentei...
 
Sentir Alter

Em Alter vejo-me ao espelho
Foi Chão que sempre pisei
Onde nasci, me criei…
E me estou fazendo velho

Em tudo a ti me assemelho
Foi cá que sempre estudei
E aprendi tudo o que sei
Sou produto do concelho

Quando a morte me levar
Minha vida chegue ao fim
Não tem nada que enganar

Eu que sempre aqui vivi
O meu corpo irei doar
Á terra de que eu nasci

sábado, abril 21

Crónica de Despertar


Não é fácil escrever por encomenda, podem crer, pelo menos para mim é muito difícil. Eu tento escrever o menos possível com a cabeça e recorrer mais aos sentimentos.
A escrita intelectual que se baseia em maneiras de pensar definidas, cada vez me aborrece mais, talvez por isso tenha deixado de me interessar a política, a racionalidade, (se a nossa o é).
Gosto de escrever sem destino, encadear umas palavras nas outras sem um propósito definido e esperar para ver.
Mas pediram-me para escrever sobre Alter e o concelho, falar dos monumentos, fazer poesia, (a que eu sou um pouco avesso).
Vivi quatro anos da minha vida em Alter. Foram bons, poderia dizer como o outro, fui feliz em Alter. Não estudei muito, por decisão minha talvez, sempre fui um aluno de suficiente. Lembro de no último dia de aulas ter despachado todos os livros do 5º ano pelas janelas da “carrinha”.
Conheci pessoas de quem ainda hoje guardo grata recordação; Dona Mabília, o Padre Zé Maria, seu Vitorino, gostava do professor Zé Manel Cary, um homem frontal.
E colegas, uns de quem nunca mais ouvi falar, outros que continuaram comigo, ou que reencontrei agora.
Há dias li por aqui a Lenda dos Doze Melhores de Alter, que não conhecia. Fiquei a pensar no nobre que matou homens honrados que defendiam as suas terras, só teve por castigo, que eu diria prémio, refugiar-se em Espanha. Pensei em Camões e no desconcerto do mundo, “Fui mau, mas fui castigado, assim que, só pera mim, anda o Mundo concertado”.
O Castelo de Alter é bonito, moderno, já na data da construção não se deviam sentir grandes necessidades de defesa do território. Só lá entrei uma vez, há muitos anos, talvez trinta e oito e nunca mais lá vou voltar. Estes monumentos que perduram no tempo não nos transmitem a ideia do efémero que tanto nos atrai. Está ali, um dia vamos lá, vai-se adiando.
Eu também não sou muito de me encantar com pedras, seduz-me, isso sim, imaginar as pessoas que passaram pelos lugares; como pensavam, a sua visão do mundo, ou como imaginavam o futuro.
E o Castelo de Alter, sem ter a figura do Sr. Bola-a-bola á porta, não deve ser a mesma coisa.

A Arte de (a.m.v.a.)




quinta-feira, abril 19

Crónica de Despertar


Acordo devagar como quem já tem o sono em dia. Abro os olhos e situo-me, identifico o meu espaço. Perscruto as frinchas dos cortinados, já não é noite; constato. O dia está nascendo.  
A julgar pela luz, parece estar muito frio, nesta primavera gelada e seca; aconchego-me.
Regra geral sinto-me fresco. Como não sonho muito, a mente depois do sono está lúcida.
Quando me sinto mais desperto e não naquela modorra entre o sono e a vigília, agarro a madrugada e escrevo.
Escrevo de memória, não tenho outra maneira. As ideias chegam, eu moldo-as, arrumo as palavras como sei e memorizo.
Repito muitas vezes as frases, é um processo demorado, não me posso esquecer de uma única palavra.
Com a seguinte ideia faço o mesmo, o mesmo trabalho. Quando termina, volto a dizer tudo para mim, desde o princípio.
É assim que construo as minhas crónicas de despertar, que têm que ser necessariamente curtas.
De manhã, abro o computador e a torneira da minha memória jorra o texto acumulado. Faço algumas correções, burilo e se gosto guardo.
Nascem assim as minhas “Crónicas de Despertar”.

segunda-feira, abril 16

Busca


Trepei ao cimo de um monte
Alonguei um olhar ao fundo
Procurei por todo o mundo
Que tinha por horizonte

Na minha vida há uma fonte
De um amor lindo e rotundo
Teu olhar negro e profundo
Quem me dera eu encontre

Nesta ansia de te amar
De afastar todos os escolhos
Toda a lonjura do mar

Eu faço versos aos molhos
No meu afã de louvar
O negrume dos teus olhos

domingo, abril 15

Angustias


Não gosto deste cinzento que me oprime
Esta ausência de sol que me apavora
Quero os meus dias prenhes dos raios de luz
Que dão calor às pedras da calçada

Não gosto dos dias em que o céu se dilui em choros
De chuvas cansativas e inclementes
Dias escuros, de correrias pelas ruas
Que não nos deixam sentar á soleira da porta

Mas sobretudo detesto os dias tristes
Que são todos aqueles em que te não vejo