quarta-feira, fevereiro 29

O rapaz que era azul


Era uma vez, há muitos muitos anos, um rapaz azul claro.
Naquele reino tão distante, havia rapazes de todas as cores, pretos, brancos, amarelos, vermelhos, mas os que por acaso nasciam azuis, não eram aceites, nem pelos outros rapazes, nem pelos adultos. Eram apontados a dedo, tratados como se ser azul fosse crime.
Talvez por ter nascido de um azul muito claro, o rapaz nos primeiros anos de vida, não se sentia muito mal. Levava as tímidas alusões á sua cor, com uma perna às costas. Afinal nessas idades, infância e pré-adolescência, a cor da pele ainda não é determinante, não descrimina.
Com o passar do tempo, ou porque se foi tornando cada dia mais azul, ou porque estava com o crescimento a tomar mais consciência de si, foi percebendo que ia ter uma vida difícil num reino que não sabia conviver com o azul.
Depois de muito deduzir, percebeu que o culpado da sua desdita era o sol. Era a luz do sol incidente na sua pele que o denunciava ao reflectir aquela variante mal aceite do arco-íris.
Resolveu então procurar um quarto escuro e isolar-se, apartar-se da luz que o denunciava. ‘Passou anos e anos sozinho, a tentar entender-se, procurar exorcizar os seus fantasmas. Leu muito, tentou entender as pessoas e principalmente perceber o porquê da sua vida, entender-se.
Foi um tempo triste aquele, mas também tempo de se refazer, de abarcar a problemática das cores, os porquês.
Um dia, depois de muito tempo de isolamento, começou a desconfiar que o problema não estava na luz, muito menos na pele que a reflectia. Percebeu que o mundo era mesmo a cores, nenhuma melhor que as outras, só diferentes.
Que o erro estava nos outro e na maneira de olhar.

terça-feira, fevereiro 28

Por um fio

Trago a vida por um fio
Não é fácil viver assim acreditem
Todos nos sabemos mortais mas a longo prazo, sempre
A morte é algo que não me preocupa e estou preparado

Mas para o inevitável, que o Céu me caia na cabeça, não assim
Sinto que tenho obrigação de fazer tudo para prevenir o evitável
De me defender de situações que podem ser controláveis
Tentar lutar contra o pouco caso, o deixa andar…

Alguém imagina o que é dormir com um machado suspenso sobre a cabeça?
Eu estou assim há algum tempo, tempo demais
Já tarde, percebo que não posso insanemente ignorá-lo
É muita leviandade prescindir do instinto de sobrevivência

A minha vida não nada de muito importante, nem para mim
Mas terei direito a entrar assim nesta “roleta russa”?
Permitir a presença do machado de gume afiado sobre a cabeça?
Sei que não, até porque nestes últimos dias está a ser-me difícil dormir.

Está na hora de fazer alguma coisa
Não sei o quê, mas esta é a hora.

 2012 02 26

segunda-feira, fevereiro 27

sexta-feira, fevereiro 24

Parabéns Marina

Para a minha Favinha


No nosso dia de anos, era hábito trocarmos postais. Na véspera do meu, no consultório, pensando no que escreveria, tudo lhe saía em verso.

Favinha tu sabes lá
O que me vai p’la cabeça
Coisas simples e confusas
Ainda que não pareça.

Fico às vezes a pensar:
-Mas isto já não tem cura!
Cozinhar não é comigo
Aquilo que faço esturra.

Assim ficas tu a ser
Nossa cozinheira-mor
P’ra ser eu, nem vale a pena
A Combuca ainda é pior

A mana não quer trabalhos
P’ra ela logo está pronto.
Comida feita por ela,
Comemos vezes sem conto.

Cansou-se de cozinhar
Passou a pasta p’ra ti
Que eu só faço caldeirada
Faço p´lo livro que li.

(a.m.v.a.)
Lx, 21.03.1984

quarta-feira, fevereiro 22

Rima verde

Minha rima é de um verde esperança
Porque eu espero ainda te encontrar
Tornar bem mais estreito este mar
É sabido, quem espera sempre alcança

Sonho com lindos risos e com dança
Com conversas longas de encantar
O desejar estar contigo, é sonhar
Quando não estás, tu és lembrança

Todo o tempo em que estou contigo
Que quero seja sempre e todo o dia
Fazer do teu olhar constante abrigo

Deixa-me sempre um’ imensa alegria
De me sentir voltar ao tempo antigo
“Ao tempo em que de amor viver soía”

2012 02 20

terça-feira, fevereiro 21


Hoje desafio o Roedor




Não edito

segunda-feira, fevereiro 20

Dia A Dia


Nesse dia, seguimos o ritual de correr para o combóio (o nosso record foi de 12 minutos) e em Moscavide recebi uma carta verde, que me deixou radiante e de coração cheio.
Abri o envelope e encontrei esta quadra:

"Por esta tu não esperavas
Mas vais gostar com certeza
Uma graça, o que é que tem
É só mais uma surpresa."

Lá dentro estava o nosso dia-a-dia em quadras.

Gosto de ti porque gosto
Gosto de ti porque sim
Gosto de ti e aposto
Também tu gostas de mim

Não me perguntes porquê
Não sei responder a tal
Quando se gosta é assim
“Tanto”, até nos faz mal.

Queria às vezes abraçar-te
Dar-te beijinhos também
Quando tu dás eu só digo:
-Pára com isso, está bem?

Calo-me assim, sou uma tonta
Se gosto, devo dizê-lo
Vergonha não é, eu sei
Orgulho… não queria tê-lo

Mas tu sabes e por isso
Nunca te zangas comigo
Também é melhor assim
Senão, tal era o castigo

De manhã começa o dia
E nós começamos bem…
Fava – Já são 7 horas Anita!
Ana – Isso é comigo, ou com quem?

Segue-se o pequeno-almoço
Promessas todos os dias
Se a Favinha não o faz
Nem torradas nem fatias

Se vamos ao Brasileiro
Vá lá, não ficamos mal
Pago eu, ou pagas tu?
Pagas tu, ponto final.




P’ro combóio uma correria
É para manter a linha
Dizes tu sete e um quarto
Sete e trinta, com calminha

É um dia de trabalho
Que assim iniciamos
Muitos, com muita saúde
É só do que precisamos

Saúde sim, mas também
Dinheiro e muita alegria
Muitos anos e dos “bons”
Votos da Ana Maria

(a.m.v.a.)
Lx, 21 de Março de 1984