sexta-feira, setembro 30

Manhã de Névoa


A cidade acorda, ainda estremunhada
Um denso nevoeiro vem de lá do rio
Mas já se nota um imenso corrupio
Que nem parece ser ainda madrugada

Tanta parede, corta a lonjura do olhar
Sente-se o homem solitário entre gente
Daquela solidão mais dura e eloquente
De passar ombro a ombro e nem falar

Por entre os prédios, há claustrofobia
Até as árvores parecem enclausuradas
As janelas estreitas, algumas gradeadas
Com certeza por aqui, eu nunca viveria

Prefiro os espaços abertos, desta planície
Ou mesmo as vagas alterosas, do alto mar
Espaços abertos, serras, ondas, vento e ar
Onde se pode olhar longe, com superfície

quinta-feira, setembro 29

Vagabundo de mim


Eu sou com’ um vagabundo
Não tenho eira, nem beira
Nem filhos, ou companheira
Sou só eu, em todo o mundo

Se eu cruzasse o mar profundo
Seria p’ra não voltar
Perder-me p’ra me encontrar
Por fazê-lo dava tudo

P’ra quem ama este planalto
Os campos do seu nascer
 Só mesmo por bem mui alto

Procurava outro viver
Venceria o mar de um salto
Pena minha, eu não poder

quarta-feira, setembro 28

Auto-Retrato

Homem maduro, na casa dos cinquenta
Divertido, folgazão, namoradeiro
Para rir de mim mesmo, sempre o primeiro
Bastas vezes, sou de trazer pêlo na venta

De má figura, nunca fui bonito mesmo
Sou dedicado, sonhador, sou de ilusões
E procuro despertar sempre emoções
Quando fico mais bravo, escrevo a esmo

Trago comigo algumas poucas amizades
Dentro do peito um grande amor ausente
Vivo o presente, sem futuro, nem saudades

Gosto do eu, o que aqui está, o do presente
Do que se mostra, sem pudor e sem vaidades
E é capaz de ser, escrever, dizer que é gente
 

Periscópio

Acordo!
Amanhece, rompe a aurora
Eu só c’o nariz de fora
Investigo o ambiente

Digo!
Sem sair de sob a manta
- N’uma hora não me espanta
Este dia vai ser quente

Mau!
Temos o caldo entornado!
Está inquieto este meu gado
Será lobo, ou será gente?

(Joaquim Carrapato)

PS: O título surgiu de imaginar o nariz a sondar como o periscópio do submarino.

terça-feira, setembro 27

Quando o mail chega...

Não! Não foi um vídeo pedido, foi muito mais..., sugerido.

"estavas tu linda Inês posta em sossego, de teus anos tirando doce fruito, naquele engano de alma ledo e cego, que a fortuna não deixa durar muito..."

Lembra-te, tu tens tudo, até um Pedro. Só tens que dar tempo e com certeza vais chegar.

Streep tease familiar

Fim


Quando eu morrer, amanhã
Não quero choro nem pranto, só quero ter por mortalha um lençol de pano branco.
Quero morrer de repente, sem tempo para sofrer, para tragédia demais me chega já o morrer.
Não quero padres, nem rezas, nem noitada de velório, deixem-me só no silêncio entre o Céu e o Purgatório.
Que não me tragam Capelas, Palmitos, ou Flores de Mão, quero uma rosa vermelha, bem da cor do coração.
Não quero que batam palmas ou entoem qualquer hino, deixem só por companhia o lento tocar dum sino.

Quando eu morrer, amanhã
E a terra me tapar, eu só gostava de ouvir, uma canção de embalar