sábado, dezembro 31

Feliz Ano de 2012

Está um lindo último dia do ano.
Céu azul, com um belo sol pendurado.
Quente, fagueiro, brilhante, uma belezura.
O que eu gosto destes dias, apesar do frio…

O “Crónicas de Seda” assinala a sua oitava passagem de ano.
Não tem sido fácil manter a página aberta e activa,
Umas vezes mais vivo, outras um pouco mais mortiço,
Mas quem faz o máximo que sabe, não fica a dever nada.

A página do Facebook, é bem mais recente,
Mas também me tem proporcionado algumas alegrias.
Bons amigos, bons leitores, boas críticas…

Na última segunda-feira, encetei uma nova experiência
Criei o Grupo “SEDA & VELUDO (Artes Livres)
Que felizmente está a ser um êxito.

A quem colabora, lê, ou comenta em:
http://crnicasdeseda.blogspot.com/
http://www.facebook.com/JoaqGod
http://www.facebook.com/groups/206006289487890/

Desejo um formidável   //// ANO NOVO  ////

Estas minhas casas são também um pouco vossas

quinta-feira, dezembro 29

Orgulho

Meus amigos
Estou a ficar vaidoso com o rumo que o Grupo SEDA & VELUDO (Artes Livres) está a tomar, é um sucesso.
Para verem como é diferente, deixo-vos uma parceria dos dois administradores.

SONGE

Moi qui suis un homme faible et dilettant
et n'ai pour vivre qu'un seul présent
j'abrite dans ma poitrine, un grand amour absent
et dans ma tête, un oisillon voletant

Diviser un coeur; cela est impossible
le mieux c'est de le maintenir uni en deux voies
et continuer à vivre au maximum de mes jours
un beau songe et une chance sans pareille

Toute cette affection intense et pure
qui me remplit à chaque instant et me complète
est, comme écrivait un brésilien poète,
passion sans fin, pendant qu'elle dure

* Poema meu e tradução de Amalia Melo Costa.

quarta-feira, dezembro 28

Memórias


Há ideias muito difíceis de expressar por palavras. Estão na cabeça, como imagens ou sensações, mas verter em escrita é complicado. Encontrar os termos certos, dispor as peças do puzzle no lugar adquado, é uma árdua tarefa.
Lembro-me de uma maneira paradoxal; clara e próxima, mas também difusa e perdida no tempo. Como se fossem memórias minhas, mas também histórias contadas, como se me lembrasse de vivências de outras pessoas.
Era Agosto, num fim de tarde quente e seco. Estive sentado aqui, nas guardas da ponte, virado a jusante, durante não sei quanto tempo.
Nunca, nem nessa altura nem agora, tinha pensado no tempo que passou, nem no que se passou durante o tempo que não sei determinar.
Lembro-me claramente, agora, de não ter passado nenhum automóvel. E há quarenta anos a estrada já tinha muito movimento.
De entre o muito ou pouco que se passou durante esse pequeno ou grande iato de tempo, que me ficou gravado na memória e que só recordei mais tarde, foram as imagens e os sons.
Leito de juncos da ribeira, semeado de uma manada de vacas alentejanas, vermelhas, grandes, de longos chifres e ancas descarnadas.
Mas ainda mais do concerto de sons. Á medida que mordiam a erva, faziam soar á vez uma orquestra de chocalhos, de cores diferentes e cada cor com vários tons. Ali uma manga, mais além um som mais agudo, acolá um timbre corrido, misturado com uma campainha. E eu fiquei absorto não sei por quanto tempo.
Hoje, ao olhar do mesmo ângulo, penso que tanto podia ser há quarenta, quatrocentos ou mil e quatrocentos anos. A paisagem continua lá, igual, como sempre.

O tempo só existe para quem o mede.

segunda-feira, dezembro 26

Ser ou não ser


Hoje é Natal.
E todos mostram ter boa vontade, porque é Natal,

E sorriem muito, porque é Natal,
E amam sempre, porque é Natal,
E lembram todos, porque é Natal,
E visitam enfermos, porque é Natal,

E trazem amigos, porque é Natal,
E oferecem flores, porque é Natal
E dão presentes, porque é Natal.
E são simpáticos, porque é Natal.

E dão esmolas aos pobrezinhos, porque é Natal
E ganham o Céu mais a família, porque é Natal

Hoje é Natal
E todas as injustiças estão mais visíveis, porque é Natal

E há quem sofra, porque é Natal
E mulheres doentes, porque é Natal
E homens descalços, porque é Natal
E crianças tristes, porque é Natal

E há desperdício, porque é Natal
E mal vestidos, porque é Natal
E sem-abrigo, porque é Natal
E há meretrizes, porque é Natal

E há políticos que já não roubam, porque é Natal
E que até amam o Zé Povinho, porque é Natal
-
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Hoje não é Natal
E o mundo ganha as mesmas cores de sempre, porque não é Natal.

domingo, dezembro 25

Dúvidas

Não sei quem me visitou esta noite.
Se o Pai Natal que não deixou nada.
Se o Passos de Coelho que levou tudo.

sábado, dezembro 24

Um Outro Natal



Hoje pensamos em tudo e em todos, principalmente quando nos rotulam como profundos e graves. Foi assim que um amigo me chamou.
E penso em todos os nomes em que vou sendo carimbada, como se alguém sequer ousasse ou pensasse o que carrego dentro de mim.

A banalidade toma conta de nós, seres humanos.
Repetimos frases, construímos imagens, redescobrimos tudo o que já foi feito. Não há nada de novo, nada a ser criado, apenas recriado.
Nas nossas fantasias, nos colocamos como criadores, como desbravadores, como originais de algo que está sempre no ar, pronto e para ser entregue a cada um de nós, que ouse olhar para os presentes pendurados nas nossas árvores, nas nossas ilusões que brilham e se apagam, tão facilmente.
Lembro-me de um dia, em que contente, fui honrosamente colocada como Cloé, em um pedaço de uma terra tão distante. Lá ficaram minhas palavras, guardadas dentro de um blog, que talvez as mesmas pessoas de sempre acessem.
Mas, como tudo é mutável, é passageiro, o nome desapareceu, sem que eu nunca soubesse o porquê. Assim, como distante, olhando com olhos compridos, mas, cada vez mas que me doei, e reparti, fui sendo colocada em bacias cheias de rótulos, com palavras que jamais sonhei escutar.
E fui vendo, um lugar que nunca foi meu, passageiro, onde o verdadeiro apenas eu pensei que fosse, desfilar tantos outros seres, carregando nas cestas coloridas, frases de efeito, e passados desfeitos, desafectos e amores nunca correspondidos.
Mas, sempre soube que havia a minha colcha de retalhos, onde day by day achava que vivia algo especial, um a mim destinado.
Mas nas linhas coloridas, nos retalhos que tantas noites insones fui costurando, amarrando, via aumentar algo que só eu construía na noite comprida
Enquanto costurava, outras colchas eram alinhavadas, para quem sabe ficar de prontidão, ou simplesmente, pelo ato de seduzir, eram a tantas mais, ofertadas.
Calada, enxuguei muitas lágrimas, vi minhas linhas coloridas serem manchadas, e quantas vezes, desta colcha amarfanhada, quis me livrar por ela não ser mais do que um pedaço velho de pano enxovalhado.
Vi canções, danças, praias, lugares prometidos serem trocados e ofertados. As poesias que sempre fiz, serem encostadas por outras mais felizes e leves.
Mas, como custo a entender, mesmo que gritem, arranquem minhas ilusões, comam as lagartas ladinas, minhas tenras verdes folhinhas que tão solitariamente day by day, fui molhando, e contra pequenas ou gigantes ondas de insectos fui combatendo.
E fui invadida, na minha soleira, o barro, o pé pesado entrou chutando, mostrando a todos aquilo que não sou, desfazendo, humilhando, enquanto danças, palavras melosas, bichinhos trocados, na infâmia vil de ser trocada, banalmente. Nunca a casa alheia fui convidada, sempre fiquei de olho desejoso de pertencer, a um lugar que chamado de liberdade, só transporia o que tivesse a senha de amigo, a oferecer. Sequer tive uma palavra de carinho, ou de entendimento, nada é preciso. Só ficar a postos na hora onde o desejo que aflora assim como a mulher fácil, por troca de algo, espera.
Até isso foi contestado, teria que ser a fantasia de outras mansas, suaves mulheres que não se entregam, não se doam, frias, grandes manipuladoras das palavras, sabem aonde brincam , com a fantasia de algo que se realmente vissem, perceberiam que não existe.
O bloquear que já estava realizado, o cercado onde foi me colocado como presente por minutos de sofreguidão, tudo pura ilusão, onde o verdadeiro está lá for a, onde sou proibida de ultrapassar, onde a placa de proibida está escrito: “Aqui só entram minhas amigas e escolhidas.” Sou livre, quero ser o que sou, desde que não sejas o que és, que não fales, que te escondas, que entendas que eu sempre te falei o que sou. Tu é que insistes em não ver, a não querer aceitar o tanto de minutos que te dou”.
O resto das horas não te pertencem, nem sequer quero saber das tuas dores, ou aflições. Tu simplesmente a nada pertences.....fique quieta, solitária, enquanto brinco, paquero, jogo o tempo todo com a fragilidade das emoções.....É tão fácil falar palavras.....elas se propagam, a todas servem, todas tem algum retalho delas...todas se iludem em ser protagonistas de algo que só existe na imaginação delas....mas, felizes, se abrem, sorriam, jogam sua sedução de volta, e feliz mortal que aceita tudo.....afinal, é Natal......bebamos nossos vinhos, assemos nossos perus, enfeitemos nossas mesas com castanhas, nozes e reguemos tudo com a falsidade, futilidade.....em algum lugar distante, existe uma tenra folhinha verde, tremula, sob o calor escaldante, ou sob a luz de um céu profundo e denso, que nunca saberei como realmente é.

Feliz Natal!

(Cloé Madruga)

FELIZ NATAL


Nunca gostei muito do Natal.
No princípio talvez por ressentimento.
Deste cedo percebi que festa de família não era para mim, eu seria sempre homem de andar sozinho, de pau e manta.
Depois agente habitua-se e inventa teorias para justificar as nossas birras; é a falsidade, o mercantilismo, desculpas para rodear o óbvio.
Mas o tempo passa e se não nos trás sabedoria, trará certamente alguma consciência de nós e a ausência do medo de chamar os bois pelos nomes.
Hoje sei, embora ainda desconfiado, que o Natal é bom para quem o vive com espírito de partilha, que é como deve ser.
Nesta quadra, devemos partilhar o que temos pouco, porque partilhar o muito, é fácil.

Eu venho pela primeira vez, dividir com todos os que gosto, algo que pouco tive e agora tenho na medida do possível:

Uma mesa farta de afectos

sexta-feira, dezembro 23

Vidas Simples

Pelas minhas contas, terá nascido por volta de 1865, chegado a Seda em 1877, era “pechardeco”, natural de Chança e veio trabalhar como “moleque” para casa dos Teixeira. Moleque era uma espécie de moço de recados das casas ricas, o primeiro trabalho dum menino antes de chegar a ganhão.
Chamava-se António Lourenço, e foi meu bisavô materno.
Por lá conheceu uma criadita, afilhada da casa, chamada Catarina Rosa. Acabaram de se criar juntos e desenvolveram uma antipatia mútua, de todos conhecida, que só terminou quando ela já não podia mais esconder a barriga.
Os patrões casaram-nos à pressa, o mal já não tinha remédio e foram pais de oito filhos, cinco rapazes e três raparigas.
O meu bisavô era reconhecido na terra como um excelente trabalhador e uma pessoa muito honrada. Era hábito por aqui haver também uma certa deferência por quem tinha vindo de fora.
O ano de 1908 foi de uma grande invernia. Não era possível trabalhar nos campos e lá em casa havia dez bocas famintas. Convencido pelos vizinhos, acompanhou-os uma noite a apanhar uns quilos de bolota, (bolêta).
Era um terrível crime nesses tempos no Alentejo, um pobre matar a fome com o que estava destinado aos porcos.
Ele não voltou nessa noite. Perguntados em segredo os companheiros do “roubo”, nada de nota tinha acontecido.
Fizeram o percurso no sentido inverso e encontraram-no. Ao tentar saltar um ribeiro, não alcançou a outra margem. A água gelada, o peso do saco e a correnteza, mataram-no.
Mas quem realmente o matou, foi a fome.

Assim terminou a curta história do meu bisavô “pechardeco".

quinta-feira, dezembro 22

Filhos da Terra

Opções


Imaginemos que há Deus e o Diabo, Céu e Inferno, Recompensa e Castigo…
Imaginemos um menino, fechado no seu labirinto, sem futuro, sem presente, sem nada.
O Diabo um dia visita-o e fala-lhe assim:
- Sabes que vocês comuns mortais têm o poder do Livre Arbítrio. São vocês que fazem as vossas vidas, umas vezes em consciência, outras delas como consequência de uma cadeia lógica. Mas há alguns que têm o privilégio de o fazer numa cartada só. Tu foste eleito para decidir o teu Plano de Vida e aceitar o resultado.

Plano A –
Vives mais trinta anos. Não vais ter doenças graves, vives tranquilamente, morres em paz e no fim tens o Céu, a Vida Eterna.

Plano B –
Entregas-me já a tua alma. Tens a próxima semana para viver á tua maneira, como escolheres. Domingo á noite venho reclamar-te. Vais comigo, sabes para onde.

O menino, não hesitou, nem pensou duas vezes.
Escolheu o Plano B.