quinta-feira, janeiro 31

Conto – Três Flores, Uma aventura (Parte I)



 Era inverno, um desses dias de inverno em que o sol também desponta, como a querer anunciar que, logo que ele se vá embora, chegará a primavera. E nesse dia de inverno, apesar do sol que se abria em sorrisos contagiantes, o frio também se fazia sentir. Era só ver como as pessoas andavam tão vestidas, mas tão vestidas, que delas só se lhes via o rosto! Eram casacões, eram botas, eram gorros, eram lenços, eram luvas, sei lá mais o que as pessoas usavam para esquecerem o frio.
E quem assim observava e assim cogitava era o Lírio Roxo que, mesmo neste frio resolvera sair para o jardim onde, até então, descansara como broto no rizoma debaixo da terra. Tinha tido um sonho (ele nem sabe bem se foi um sonho) que lhe dizia para acordar, para sair da terra. E, como este era um Lírio aventureiro, fez a vontade ao sonho (não, que ele fosse um “lírio mandado”, não , ele fez a vontade ao sonho, porque quis descobrir como seria acordar antes do tempo dos lírios acordarem no jardim!)
 Estava nestes pensamentos quando sentiu um toque, uma espécie de carícia no rosto, de alguém que lhe sussurrava:
- Bom dia, amigo! O dia está lindo, o sol convida à alegria, à Vida, não é verdade? Foi por isso que resolveste aparecer? É que tu não costumas estar por aqui nesta época do ano, já não te via há muito tempo!
- Olá, Rosa Amarela! Também já acordaste?! – e, sorrindo, continuou -É verdade, tive um sonho engraçado, penso que foi um sonho, mas nem sei...! estava eu bem deitadinho na minha cama-rizoma quando ouvi a voz do sol:  «Acorda, olha que eu vou iluminar o jardim, e desafio as flores mais corajosas a sairem... tens coragem para sair e desfrutar das maravilhas da natureza fora do teu tempo? »  Eu não respondi, mas pensei: «Claro que tenho!”» e, mal pensei, logo me levantei, espreguicei e. aqui estou!
- Pois – continuou a Rosa Amarela – também eu ouvi o chamamento, ainda estava botão muito apertadinho, mas ao ouvir tal desafio, logo me espreguicei e abri!
- Psiu, psiu! – murmurou uma vozinha mesmo ali junto ao solo.
Intrigados, o Lírio e a Rosa logo desviaram o olhar para ver quem seria desta vez. E não é que era o Amor-Perfeito que também saíra fora do seu tempo!
Agora, e já com ânimo triplicado (eram três flores aventureiras!), mal cabendo em si de contentes, olhavam admiradas umas para as outras, até que o Lírio sugeriu:
- Ora, já que é dia de aventura, que seja uma aventura! E se fôssemos até à praia?
- Mas como é que vamos, se estamos presas pelos caules, a não ser que alguém nos colha e nos leve daqui - disse o Amor-Perfeito
(continua)
- Maria La-Salete Sá -

42 – Justiça «Luar dos Dias»




Uma história familiar verdadeira, Maio/2011.

Justiça

Dona Capitolina viveu um grande e curto amor. Mas mesmo assim quando o marido lhe morreu de uma morte muito triste, deixou-lhe oito filhos, cinco rapazes, (dois já casados) e três meninas.
Naquela altura começava-se a trabalhar muito cedo, os rapazes de “ganhão” e as raparigas na “monda”. Algumas meninas começavam a trabalhar de terna idade em casa dos lavradores e não poucas eram despedidas depois de servir os baixos instintos de patrões, filhos, ou feitores lacaios.
Uma das filhas da nossa viúva, a Margarida, (as outras ainda estavam em casa), trabalhava no prédio do maior proprietário rural da terra. Dono de herdades, gados e vida de pessoas. Era ele quem na terra decidia quem tinha direito ao “pão nosso de cada dia”. Nesses tempos no Alentejo profundo, trabalhava-se os dias todos e comia-se quando era possível. Não se podia afrontar um destes senhores, que eram saudados de chapéu na mão e cabeça baixa.
Um dia a Margarida chegou a casa muito chorosa. Ante as perguntas da mãe, contou que “o filho do patrão, (um rapazola de dezoito anos), a tinha agarrado e tentou fazer com ela algo muito feio, por sorte tinha conseguido escapar”.
Depois de ouvir o relato a viúva fez o que era usual, reunir toda a família e decidir. Mandou as duas filhas mais novas chamar os irmãos casados, ainda nesse dia iam decidir o que fazer como faziam sempre desde a morte do marido.
Á noitinha, depois da ceia, estava reunido o Conselho Familiar. Eles usavam já sem o saber o “et pluribus unum”. A menina e a mãe falaram, retiraram-se e os cinco homens decidiram; “nunca mais se falar nessa história e a rapariga amanhã vai trabalhar para o rancho, já tem bom corpo”.
O triste caso esqueceu-se como os homens tinham mandado e a vida continuou como sempre, mansamente.
Frente ao prédio do lavrador, vivia um dos ferreiros da terra. Era um homem evoluído e interessado na política conturbada da época, feita de revoluções e mudanças de governo constantes dos anos que se seguiram á implementação da República.
Todos os serões o rapazola atravessava o medonho negrume da rua, para participar nas tertúlias em casa do vizinho.
Numa noite muito escura, sem luar, mal fechou a sua porta, foi rodeado por cinco vultos de capote e chapéus pretos. Gritou por socorro, os vizinhos assomaram-se aos postigos, mas nenhum se atreveu a ir em seu auxílio. Levou a maior sova da vida dele, esteve quinze dias entre a vida e a morte.
Durante dias falou-se da afronta feita a um patrão tão importante. Jurava-se a pés juntos ter sido façanha de gabirus de passagem, que ninguém da terra se atreveria a tanto. Mas quem foi mesmo nunca se soube, até desaparecer na bruma do tempo.
O senhorinho nunca relacionou o efeito com a causa, tanto que continuou pela vida fora a abusar de mocinhas inocentes. Mas pela Margarida, pagou bem pago.

- j a godinho -

segunda-feira, janeiro 28

Autárquicas/2013 PS



Confirma-se, Francisco António Amador dos Reis, (Chico Perro), será o candidato do Partido Socialista á Câmara Municipal de Alter do Chão.
Da área do PSD e atual vereador pelo MICA, foi o fundador do Clube de Caçadores e é figura proeminente da vila.
É conhecido por ter o coração ao pé da boca e por um feitio um pouco truculento.

E o Mica, como é que fica,
Sem o Chico no comando?
Nestas trocas da politica,
Vai p´lo PS o “malandro”.

Isto é um deus nos acuda.
Não vale é andar ao murro.
Dia a dia tudo muda
Quem não o faz? Só o burro.

Força Chico, também tens direito a ir a votos com uma máquina partidária a apoiar. Mas desta vez, ou vences, ou morres politicamente.


domingo, janeiro 27

41 - Paraíso «Luar dos Dias»



A tentativa de escrever uma redondilha. Dezembro/2011.

Paraíso

Ao ver-te deambular
Por entre trigais e flores
Fiquei rendido de amores

Trazias um jeito altivo
Leveza no caminhar
Um olhar de azul-vivo
E um certo dengo no andar
Ao ver-te deambular

Vestido de cor-vistosa
E blusa de duas cores
Porte de mulher formosa
Causadora de calores
Por entre trigos e flores

Nos malmequeres e trigais
Andei perdido entre cores
Soltei suspiros, e ais          
Ante a mais bela das flores
Fiquei rendido de amores

- j a godinho -

sábado, janeiro 26

40 - Quarto Crescente «Luar dos Dias»



Mais um texto com nome, uma das minhas fases da lua. Outubro/2011.

Quarto Crescente

No princípio, era só a linda música do Chico, uma estreita faixa de lua difusa na tarde, com nome que de tanto ler me pareceu familiar e a minha constante vontade de me pôr á prova.
Estiquei meus longos braços e toquei-lhe o rosto a medo, respondeu como quem não achou liberdade a mais e eu ganhei coragem de desfiar o meu rosário de palavras sempre com respostas aprazíveis, como me sabe bem.
A pequena faixa de luz, foi crescendo, ao sabor de conversas cada vez mais longas e cada vez que se levantava mo meu Céu ficava mais brilhante e mais próxima.
Por vezes, de caprichosa, não quer nascer, amua, sacode o rosto de luz com ambas as mãos, corre a refugiar-se no cone de sombra da terra e o meu mundo fica um pouco mais escuro.
Quanto por fim volta, tenho sempre medo que já seja Lua Cheia.

- j a godinho -