segunda-feira, outubro 24

Tempo de Rupturas e continuação


19/09/2011
Da janela do meu quarto, olho para dentro de mim e vejo uma árvore.
Não será de grande porte e frondosa como outras que enxergo ao longe na floresta. É uma outra mais débil, que brotou em solo madrasto, onde tenta a duras penas fincar raízes. Não é fácil a uma árvore, porque todas em princípio são iguais, ter pouco chão para crescer e tentar roubar um pouco de sol. A minha tem tentado, pelo menos viver por imitação, como se fora como as outras.
Em tempos idos, deu de crescer desmesuradamente um ramo á pequena arvore. Ao ponto de, em vez de se sentir parte dela, passar a julgá-la sua. Era uma postura engraçada, até começar a ficar exagero.
Há meses o ramo adoeceu. Mandavam todas as regras do bom senso, que fosse podado, abrindo espaço para que outro crescesse no seu lugar.
Mas não, nada de rupturas. É melhor esperar que a doença passe, reabilitar o ramo. Não passou, agravou muito os sintomas, ao ponto de estar a fazer muito mal a toda a árvore.
O que não houve coragem para fazer na hora, tem que ser feito agora, protelar não resolve nada, só traz mágoas.
Esperemos que outro ramo cresça no lugar, ou que os outros preencham a falta.

23/10/2011
Passou um mês, a janela é a mesma e eu tento enxergar a passagem do tempo.
Aguço o olhar para que nada me escape. E o que vejo?
A minha árvore está em tudo parecida. A mesma pouca pujança e os mesmos ramos a espreguiçarem-se em busca de um pouco de sol.
A falta do ramo ainda é visível, ainda faz falta a sombra dele, e parece-me um pouco despida daquele lado.
Mas já não jorra a mesma seiva dos primeiros dias, aos poucos foi secando. Os outros ramos como eu esperava vão-lhe ocupando o espaço, escondendo aquela falha de harmonia na minguada copa.
E, maravilha das maravilhas, no lugar do corte, precisamente na fissura onde ainda alguma seiva sangra, deu para nascer um pequeno gomo que se transformou num raminho com três folhinhas de um verde translúcido.
E eu, com um atencioso desvelo, vou mimando, cuidando para que vingue e se transforme num ramo forte como o que fui obrigado a cortar.
Vou, nos tempos que aí vêm, tratar de não me esquecer que é imperioso que o vá sempre podando, limitando-lhe a importância. Para que ele perceba sempre, que um ramo é parte da árvore, não esta pertença dele.

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