sábado, outubro 1

Olhar Para Trás


Foi um tempo muito complicado, como um renascimento, ou a saída de um poço.
Uma amizade feita de muito tempo e muitas conversas.
Apareceu inesperadamente na minha vida e ficou, ou foi ficando.
Eu estava a sair de um longo período de isolamento e abriu-se uma janela.
Falávamos de tudo e foi assim que eu aprendi a articular algumas palavras mais difíceis.
Consegui falar de mim, não como agora, porque ainda estava a gatinhar.
Mas provavelmente foi com ela que eu dei os primeiros passos para o que sou.
Estávamos muitas horas do dia juntos, era a minha única ligação ao “outro”.
Nos meus tempos de convalescença, esteve sempre presente, matou-me a solidão.
Nunca vou esquecer os passeios que para mim eram longos, só para mim…
Quando o meu mundo era pouco maior que a duração de uma bateria.
Aquela tarde no Vale de Cardeiros, foi inesquecível (para mim), como foi hilariante o incidente de Pêro Calvo.
O meu tempo e viver complicado, descomplicou.
Sabem como é o raiar do sol numa tarde de muita chuva? Foi assim.

Um dia, não estava mais lá, tinha partido em busca de vida.
Só algum tempo depois percebi porquê.
E eu tive a certeza que nunca fui, nem poderia ser, nada para ninguém.

Tratei de lamber as feridas e refazer-me.
Tentando manter-me longe do meu poço.

Hoje, rio-me da minha certeza antiga

Sem comentários:

Enviar um comentário