quinta-feira, outubro 6

Na Primavera

Na Primavera, ouvindo os passarinhos
Pousados nesta árvore tão bela…
Deitada nesta terra húmida como janela
Vejo as nuvens dançando á espreita dos ninhos.

Não é uma árvore imaginada, existe
Aos olhos de um e verdadeira
E aos olhos de outro, que resiste
Mas, solene, se na presta madeira.

As folhas, alternadas nas nervuras
Caem, balançam, como gangorras
Servindo de sonhos e ternuras,
Por instantes, antes que dela, corras.

Entra-se na toca que lhe abrigas,
Fundo se vai, bem na rasante
Ora acalenta toques doces, ora brigas
Nos traumas e melindres , firme ou hesitante.

O calor dela infunde, dá coragem
De entregar-se á imaginação,
Sente-se o frescor da aragem,
Envolvendo a pele ávida de emoção.

Deitada, folhas, pássaros rodopiando
No frenesi dos sons distantes,
As mãos sôfregas, cores pintando
Como fogo fátuo dos amantes.

(Cloé Madruga)

1 comentário:

  1. "Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira."

    Che Guevara

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