quinta-feira, fevereiro 27

Joaquim António Godinho - Escritor



EM BUSCA DE VIDA

Pablo Neruda escreveu, “Confesso que vivi”, eu poderia dizer ou escrever, “Confesso que li, estudei ou sonhei”, mas de vida tenho muito pouco. Vi passa-la pela janela, como a sempre agradável paisagem, de quem viaja num comboio.
Vocês sabem que a vida é deslumbrante para quem a vê de fora? Não temos acesso ao todo, mas só ao que parece, ao que é possível de ser mostrado. A parte essencial é varrida para debaixo do tapete, salvando as aparências.
Um dia parti por aí à procura de saber como era a vida real. Como seriam postos em prática os romances que li, os poetas que bebi com sofreguidão. Queria saber, mesmo que por fora, de longe, como era a vida que eu via passar na minha janela com vistas para o mundo.
Não imaginam como é fácil obter respostas quando se sabem fazer as perguntas certas, quando se orientam as conversas no sentido desejado. Não, não é manipulação, é desejo de conhecimento e para se chegar ao saber, os fins justificam os meios, defendo eu…
É muito fácil dizer para quem se sabe nunca vir a encontrar, o que nunca se diria a um amigo, ou ao que poderíamos ver ao dobrar da esquina. As pessoas falam de como vivem, das expetativas goradas, de vidas sem interesse, abandono, falta de diálogo.
Foi um choque. Salvo raras exceções, muitos raras mesmo, só conheci pessoas desiludidas com a vida. O retorno foi muito diferente do que eu esperava.
Mulheres admiráveis, que não pediam mais para ser felizes, que atenção e um pouco de carinho. Que se sentissem importantes. E infelizmente perderam-se num mar de desilusões.

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