sexta-feira, fevereiro 28

DIÁRIO D’UM DOBREVIVENTE



----- “ OS DIAS I “ -----

Tenho memórias desses primeiros anos, não muito precisas, mas marcantes de como era a vida nesses tempos. Uma rua pequena, casas minúsculas, completamente apinhadas de gente. Lembro casas de duas ou três divisões, sem luz, água, ou saneamento, onde vivia o casal, um velho e seis ou sete filhos. Crianças sujas, de olhos fundos e barrigas grandes.
E o lixo acumulado no fim de cada rua, pasto das galinhas que também viviam em casa e ratos e moscas, enxames de moscas por todo o lado.
E doenças, as febres, doenças que levavam os mais fracos, debilitados pelo trabalho de sol-a-sol e mal alimentados e mal vestidos. Gente que era detida e espancada por comer a bolota dos porcos.
Era um país nojento este, habitado por um povo feliz por ignorância, apático, conformado e manso como os bois, sem sonhar com outra forma de viver. Um país que alimentava guerras e acumulava toneladas de ouro, roubadas da mesa dos pobres.
E uma pequena classe de privilegiados latifundiários e lacaios e bufos, muitos bufos, sempre prontos a delatar, por inveja os mais esclarecidos. Os que tinham coragem para sair de noite, para roubar o que era seu por direito.

1 comentário:

  1. Tempos muito difíceis, de verdade...
    resistir era praticamente impossível...resistir era sinónimo de clausura e tortura.
    Por isso o medo, por isso o silêncio.
    Bj.
    M.M.

    ResponderEliminar