quinta-feira, fevereiro 27

DIÁRIO D’UM SOBREVIVENTE



--- “ OS DIAS “ ---

Ganhei, não sendo ganhão, comecei a lutar no primeiro instante da minha vida e até hoje, ganhei esta minha batalha contra o esperado desfecho.
Era o menino mais fraquinho que a minha avó, comadre de aparar tantos rebentos, alguma vez vira. Magrinho, de pele e osso, não chorava porque não tinha forças, nem para mamar. Todos pensaram que dali não havia esperança de vida, seriam horas, as que demoraria a ir parar ao Talhão dos Anjinhos. Naquele tempo morriam muitas crianças, daí o cemitério da terra ter um espaço, e bem grande, destinado a elas.
Durante alguns dias, mãe e avó montaram guarda dia e noite, para não passarem pelo desgosto de que o seu menino morresse sozinho.
Mas querem que vos conte um “causo” quase inconcebível? Não morri como era esperado, ganhei o jeito de mamar e, passados uns meses enchi as peles e comecei a berrar, como bezerro desmamado.
Passaram muitos anos, quase cinquenta e cinco, já não tenho tamanho para caber no Talhão dos Anjinhos, que foi desativado.
Tudo isto se deveu à minha bem conhecida teimosia.

- j a g -

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