sexta-feira, março 25

A trágica morte do "Russo"


Faleceu no passado dia 26 de Fevereiro na Unidade de Queimados do Hospital de S.José, em Lisboa, o nosso conterrâneo e amigo, Silvestre Rosa David, mais conhecido por “Russo”.
A causa da sua morte deve-se a queimaduras de primeiro grau num braço e nas costas, devido a queda para a lareira, com lume bastante forte, onde permaneceu, por tempo indeterminado, impossibilitado de se retirar e de ser assistido em tempo oportuno.
Consta que, quando se conseguiu levantar do braseiro, apagou com água a roupa que trazia vestida, ainda a arder, permanecendo os restos da camisa e do casaco, já carbonizados, nas feridas provocadas pelas queimaduras e assim se mantendo durante cerca de três dias, até ser aconselhado a apresentar-se no Posto Médico de Seda de onde transitou para o Centro de Saúde de Alter do Chão, Hospital de Portalegre e Hospital de S.José.
Tive oportunidade de o visitar na véspera da sua morte. Falei com ele durante alguns minutos, dada a limitação de tempo que me foi imposta, e com a enfermeira responsável que acompanhava a sua situação.
Estava prevista para os primeiros dias da semana seguinte uma intervenção cirúrgica para lhe retirar pele de uma perna a fim de ser iniciado o processo de enxerto das partes queimadas. Infelizmente já não teve essa possibilidade. Na madrugada de sábado (dia 26/2/2011) o “Russo” sucumbiu às queimaduras.
Durante alguns anos viveu do rendimento social de inserção, fazendo alguns trabalhos agrícolas e a recolha de produtos silvestres na época própria, que vendia, normalmente, durante a Primavera e o Verão a alguns forasteiros e a residentes temporários durante o período de férias.
Os seus tempos livres eram passados entre a participação no “fórum” que se reunia, diariamente, nos bancos da praça, uma das raras actividades que se conhecem daquele “elefante branco”(a) onde era uma das figuras mais conhecidas,  e a  visita regular à “ Quadra” e ao “Lagar”, os dois cafés da zona onde gastava a maior parte do seu dinheiro.
O frio intenso do Inverno e as fracas condições da sua habitação obrigavam a que o aquecimento da casa se fizesse à custa do consumo de muita lenha que ia obtendo com relativa facilidade.
No entanto, a obtenção de grandes lumes, na chaminé, para combater o frio era incompatível com a quantidade de álcool que ingeria diariamente. A utilização simultânea de muito álcool e muito lume foi-lhe fatal.                                             
No trabalho nunca assumiu que era a sua condição de saúde e fraqueza física, resultante da idade e de uma alimentação muito desequilibrada que o impedia de continuar a trabalhar durante muito tempo.
No entanto, nós compreendíamos a situação e ele sempre soube que podia contar com os amigos em qualquer situação.
Por isso aqui fica registado o nosso testemunho e agradecimento e o:
Até sempre Silvestre.

(a)    De acordo com a Wikipédia – termo utilizado na política para se referir a obras públicas sem utilidade.

Seda, 10 de Março de 2011

 (João Aurélio Raposo)   


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