sexta-feira, fevereiro 22

ERA…, NUNCA FOI!



Era natal! Vivia-se a época da paz, do amor, da família, do carinho, da amizade, festas, prendas e felicitações.
No colégio, as crianças discutem as prendas que vão receber do Pai Natal, mas Marta estava calada, sossegada no seu canto de inocentes quatro anos.
Até que Paula lhe pergunta:
- O que vais receber do Pai Natal?
- O Pai Natal, não existe! Diz Marta.
- Existe! Existe! Insiste Paula.
- Não existe não! Os presentes que recebes são os teus parentes e amigos que te dão Paula! Insiste a Marta.
E começam uma discussão que não mais parava, não fosse o Sr. Fernandes.
Senhor reformado do estado, escriturário, esposo da professora mais velha, pai da professora mais nova. Andar desengonçado pelas dores que os ossos lhe provocam, usava uma bengala, forte e alto, com um ar sério, mas muito amável. Como eu adorava este cavalheiro. Veio em meu socorro.
- Anda cá Marta! Vem-te sentar ao pé de mim!
Traquina, sem querer dar o braço a torcer, continuou a discussão com a Paula.
O Sr. Fernandes foi-me buscar e  disse à Paula:
- A menina vá discutir para outro lado.
Ficámos sozinhos na sala de jantar!
- Conta-me Marta, não conheces o Pai Natal? Disse-me com o seu olhar de meigo inquisidor.
- Conheço, conheço! É um senhor como o senhor, mas mais gordo, com as barbas mais brancas e muito grandes, mas que só existe no Circo. É alguém que veste aquele fato para as crianças, mas eu não percebo porque é que as crianças o adoram tanto. Nem fala? Respondi como sabedora de tudo.
- Então? Quem te oferece presentes no Natal? Não é o Pai Natal? voltou a perguntar.
- Bem, a mim os presentes são os amigos dos meus pais, a minha madrinha, o meu avô, a empresa do meu pai, e tenho sempre imensos presentes porque a minha mãe conhece muita gente.
- Quer dizer que não fazes árvore de natal, nem presépio, nem as prendas aparecem na chaminé! Constatou.
- A árvore e o presépio são feitos na casa do meu avô, a minha mãe não quer a casa suja. Mas na chaminé recebo presentes, os da firma do meu pai. Ele põe-nos lá, depois de eu ir dormir. Sei que é noite de Natal, porque é a única noite em que o meu pai me manda para a cama e me diz para ir dormir, Eu finjo que durmo. E por isso sei que é assim que tudo acontece.
- De manhã abres os presentes? Perguntou o Sr. Fernandes.
- Sim! Fingindo que agradeço ao Pai Natal. Logo de seguida fico desiludida, porque o brinquedo não é igual ao que está na televisão, e o agradecimento acaba com o meu pai a dizer:
- Esta criança nunca está satisfeita!
Ambos nos calámos e ficámos a assistir às notícias da tarde.

(Matilde Rosa)

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