Era
natal! Vivia-se a época da paz, do amor, da família, do carinho, da amizade,
festas, prendas e felicitações.
No
colégio, as crianças discutem as prendas que vão receber do Pai Natal, mas
Marta estava calada, sossegada no seu canto de inocentes quatro anos.
Até
que Paula lhe pergunta:
-
O que vais receber do Pai Natal?
-
O Pai Natal, não existe! Diz Marta.
-
Existe! Existe! Insiste Paula.
-
Não existe não! Os presentes que recebes são os teus parentes e amigos que te
dão Paula! Insiste a Marta.
E
começam uma discussão que não mais parava, não fosse o Sr. Fernandes.
Senhor
reformado do estado, escriturário, esposo da professora mais velha, pai da
professora mais nova. Andar desengonçado pelas dores que os ossos lhe provocam,
usava uma bengala, forte e alto, com um ar sério, mas muito amável. Como eu
adorava este cavalheiro. Veio em meu socorro.
-
Anda cá Marta! Vem-te sentar ao pé de mim!
Traquina,
sem querer dar o braço a torcer, continuou a discussão com a Paula.
O
Sr. Fernandes foi-me buscar e disse à
Paula:
-
A menina vá discutir para outro lado.
Ficámos
sozinhos na sala de jantar!
-
Conta-me Marta, não conheces o Pai Natal? Disse-me com o seu olhar de meigo
inquisidor.
-
Conheço, conheço! É um senhor como o senhor, mas mais gordo, com as barbas mais
brancas e muito grandes, mas que só existe no Circo. É alguém que veste aquele
fato para as crianças, mas eu não percebo porque é que as crianças o adoram
tanto. Nem fala? Respondi como sabedora de tudo.
-
Então? Quem te oferece presentes no Natal? Não é o Pai Natal? voltou a
perguntar.
-
Bem, a mim os presentes são os amigos dos meus pais, a minha madrinha, o meu avô,
a empresa do meu pai, e tenho sempre imensos presentes porque a minha mãe
conhece muita gente.
-
Quer dizer que não fazes árvore de natal, nem presépio, nem as prendas aparecem
na chaminé! Constatou.
-
A árvore e o presépio são feitos na casa do meu avô, a minha mãe não quer a
casa suja. Mas na chaminé recebo presentes, os da firma do meu pai. Ele põe-nos
lá, depois de eu ir dormir. Sei que é noite de Natal, porque é a única noite em
que o meu pai me manda para a cama e me diz para ir dormir, Eu finjo que durmo.
E por isso sei que é assim que tudo acontece.
-
De manhã abres os presentes? Perguntou o Sr. Fernandes.
-
Sim! Fingindo que agradeço ao Pai Natal. Logo de seguida fico desiludida,
porque o brinquedo não é igual ao que está na televisão, e o agradecimento
acaba com o meu pai a dizer:
-
Esta criança nunca está satisfeita!
Ambos
nos calámos e ficámos a assistir às notícias da tarde.
(Matilde Rosa)
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