sexta-feira, fevereiro 8

46 – Olhar para trás «Luar dos Dias»



Uma certeza muito óbvia que se desfez em fumo.

Olhar para trás

Foi um tempo muito complicado, como um renascimento, ou a saída de um poço.
Uma amizade feita de muito tempo e muitas conversas, apareceu inesperadamente na minha vida e ficou, ou foi ficando.
Eu estava a sair de um longo período de isolamento e abriu-se uma janela.
Falávamos de tudo e foi assim que eu aprendi a articular algumas palavras mais difíceis.
Consegui falar de mim, não como agora, porque ainda estava a gatinhar, mas provavelmente foi com ela que eu dei os primeiros passos para o que sou.
Estávamos muitas horas dos dias juntos, era a minha única ligação ao “outro”, nos meus tempos de convalescença, esteve sempre presente, matou-me a solidão.
Nunca vou esquecer os passeios que para mim eram longos, só para mim, quando o meu mundo era pouco maior que a duração de uma bateria.
Aquela tarde no Vale de Cardeiros, foi inesquecível (para mim), como foi hilariante o incidente de Pêro Calvo.
O meu tempo e viver complicado, descomplicou.
Sabem como é o raiar do sol numa tarde de muita chuva? Foi assim.
Um dia, não estava mais lá, tinha partido em busca de vida.
Só algum tempo depois percebi porquê e eu tive a certeza que nunca fui, nem poderia ser, nada para ninguém.
Tratei de lamber as feridas e refazer-me, tentando manter-me longe do meu poço.
Hoje, rio-me da minha certeza antiga.

- j a godinho -



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