quinta-feira, setembro 15

Desconstrução

Eu gosto de estar sentado frente a uma folha de papel branco
Faço-o muitas vezes, ou no word, mesmo sem ter nada para escrever
Traço uns rabiscos, algumas letras a esmo, com a mente limpa
E espero que as palavras cheguem em pequenas vagas
Ou num tropel de rebanho tresmalhado, em correrias loucas

“namorado, manhoso, bem, soldado, cavaleiro, disposto, Leonardo, desgosto, …”

Chegam palavras desconexas, rodeiam-me a cabeça
E eu agora só tenho que as casar para fazer sentido
Porque eu não tenho palavras novas, uso as gastas, muito batidas
As que eu já li algures vezes frequentes, ordenadas por alguém
Numa sucessão de usos, por muitos escrevinhadores que aprecio

Faz-se luz!
Estou a resolver o puzzle!
A minha memória funcionou!
Desta vez consegui!

“Leonardo, soldado bem-disposto,
Manhoso, cavaleiro e namorado,
A quem Amor não dera um só desgosto
Mas sempre fora dele mal tratado”

Camões, Os Lusíadas, o início de “A Ilha dos Amores”

Ninguém escreve nada de novo, nem inventa receitas
Eu, como um desempregado num Parque de Estacionamento…
Sinto-me um “arrumador” de Palavras.

1 comentário:

  1. Naquela tarde, senti que estavamos na mesma onda
    Um destes dias Anna, vamos voltar a encontrar-nos a meio caminho.
    E tentar criar algo de bonito.

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