sábado, dezembro 24

Um Outro Natal



Hoje pensamos em tudo e em todos, principalmente quando nos rotulam como profundos e graves. Foi assim que um amigo me chamou.
E penso em todos os nomes em que vou sendo carimbada, como se alguém sequer ousasse ou pensasse o que carrego dentro de mim.

A banalidade toma conta de nós, seres humanos.
Repetimos frases, construímos imagens, redescobrimos tudo o que já foi feito. Não há nada de novo, nada a ser criado, apenas recriado.
Nas nossas fantasias, nos colocamos como criadores, como desbravadores, como originais de algo que está sempre no ar, pronto e para ser entregue a cada um de nós, que ouse olhar para os presentes pendurados nas nossas árvores, nas nossas ilusões que brilham e se apagam, tão facilmente.
Lembro-me de um dia, em que contente, fui honrosamente colocada como Cloé, em um pedaço de uma terra tão distante. Lá ficaram minhas palavras, guardadas dentro de um blog, que talvez as mesmas pessoas de sempre acessem.
Mas, como tudo é mutável, é passageiro, o nome desapareceu, sem que eu nunca soubesse o porquê. Assim, como distante, olhando com olhos compridos, mas, cada vez mas que me doei, e reparti, fui sendo colocada em bacias cheias de rótulos, com palavras que jamais sonhei escutar.
E fui vendo, um lugar que nunca foi meu, passageiro, onde o verdadeiro apenas eu pensei que fosse, desfilar tantos outros seres, carregando nas cestas coloridas, frases de efeito, e passados desfeitos, desafectos e amores nunca correspondidos.
Mas, sempre soube que havia a minha colcha de retalhos, onde day by day achava que vivia algo especial, um a mim destinado.
Mas nas linhas coloridas, nos retalhos que tantas noites insones fui costurando, amarrando, via aumentar algo que só eu construía na noite comprida
Enquanto costurava, outras colchas eram alinhavadas, para quem sabe ficar de prontidão, ou simplesmente, pelo ato de seduzir, eram a tantas mais, ofertadas.
Calada, enxuguei muitas lágrimas, vi minhas linhas coloridas serem manchadas, e quantas vezes, desta colcha amarfanhada, quis me livrar por ela não ser mais do que um pedaço velho de pano enxovalhado.
Vi canções, danças, praias, lugares prometidos serem trocados e ofertados. As poesias que sempre fiz, serem encostadas por outras mais felizes e leves.
Mas, como custo a entender, mesmo que gritem, arranquem minhas ilusões, comam as lagartas ladinas, minhas tenras verdes folhinhas que tão solitariamente day by day, fui molhando, e contra pequenas ou gigantes ondas de insectos fui combatendo.
E fui invadida, na minha soleira, o barro, o pé pesado entrou chutando, mostrando a todos aquilo que não sou, desfazendo, humilhando, enquanto danças, palavras melosas, bichinhos trocados, na infâmia vil de ser trocada, banalmente. Nunca a casa alheia fui convidada, sempre fiquei de olho desejoso de pertencer, a um lugar que chamado de liberdade, só transporia o que tivesse a senha de amigo, a oferecer. Sequer tive uma palavra de carinho, ou de entendimento, nada é preciso. Só ficar a postos na hora onde o desejo que aflora assim como a mulher fácil, por troca de algo, espera.
Até isso foi contestado, teria que ser a fantasia de outras mansas, suaves mulheres que não se entregam, não se doam, frias, grandes manipuladoras das palavras, sabem aonde brincam , com a fantasia de algo que se realmente vissem, perceberiam que não existe.
O bloquear que já estava realizado, o cercado onde foi me colocado como presente por minutos de sofreguidão, tudo pura ilusão, onde o verdadeiro está lá for a, onde sou proibida de ultrapassar, onde a placa de proibida está escrito: “Aqui só entram minhas amigas e escolhidas.” Sou livre, quero ser o que sou, desde que não sejas o que és, que não fales, que te escondas, que entendas que eu sempre te falei o que sou. Tu é que insistes em não ver, a não querer aceitar o tanto de minutos que te dou”.
O resto das horas não te pertencem, nem sequer quero saber das tuas dores, ou aflições. Tu simplesmente a nada pertences.....fique quieta, solitária, enquanto brinco, paquero, jogo o tempo todo com a fragilidade das emoções.....É tão fácil falar palavras.....elas se propagam, a todas servem, todas tem algum retalho delas...todas se iludem em ser protagonistas de algo que só existe na imaginação delas....mas, felizes, se abrem, sorriam, jogam sua sedução de volta, e feliz mortal que aceita tudo.....afinal, é Natal......bebamos nossos vinhos, assemos nossos perus, enfeitemos nossas mesas com castanhas, nozes e reguemos tudo com a falsidade, futilidade.....em algum lugar distante, existe uma tenra folhinha verde, tremula, sob o calor escaldante, ou sob a luz de um céu profundo e denso, que nunca saberei como realmente é.

Feliz Natal!

(Cloé Madruga)

2 comentários:

  1. Cloé... Adorei!

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  2. MAGNÍFICO !!!

    Mas sinto que um dia, saberás...
    como realmente é.

    Desejos todos os teus dias de muita sabedoria e felicidade!!!

    Beijos...

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