quinta-feira, agosto 5

Florindinha

Zé da Horta e Chica Ranheta já tinham seis filhos, mas, aprochegando-se o nascimento do sétimo rebento, havia uma certa borrasca no lar. As seis tentativas anteriores não foram suficientes para realizar o sonho do homem: ser pai de uma menina.


Caseiro na Herdade do Adriano Vesgo, Zé era um tipo casmurro, marcado pela porrada que levou dos quatro irmãos mais velhos, patifes arruaceiros cujo grande divertimento, quando estavam em casa, era cascar no benjamim. Facto que o fazia detestar os filhos machos.


Zé da Horta vivia como um touro prestes a investir. Ao mínimo pretexto, distribuía estalada pela meia-dúzia de catraios ranhosos. Por isso Chica Ranheta nem se espantou quando o marido, com um tom de voz até doce se comparado ao tratamento habitual que dispensava à família, decretou:


- Se for outra “menina de três pernas”, afogo os dois no tanque da horta, sua cadela!


Para sorte da pobre mulher, Zé estava no trabalho quando ela entrou em trabalho de parto. Ao conferir, com a criança ainda nas mãos da comadre que a assistiu, que se tratava de “uma menina com rastilho”, Chica chorou baba e ranho.

(continua)

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