sábado, maio 10

MEMÓRIAS I



Em minha casa, nunca ouvi falar de política, devia seguir-se a regra de antanho, “a nossa política é o trabalho”, nunca foi tema em casa, esse assunto, onde ninguém sabia ler.
Ouvi falar vagamente no homem que caiu da cadeira, depois, apercebi-me de um outro, com voz melosa, que falava na televisão, As Conversas em Família. Mas eu não tinha televisão, (nem luz, nem água corrente, nem casa de banho), não era coisa que me levasse a pagar os 5 tostões para assistir, preferia os filmes de cowboys em casa da Joaquina Manola, ou no Salão do Gualdino. Quando Abril chegou, era tudo novo e eu fiquei ávido de saber coisas, de ouvir discussões, e de perceber, para opinar.
Fiz greve no colégio particular, onde pagava 500 escudos mensais, (dos 3.500 do salário do meu pai), dois meses depois, passei a pagar uma propina de 125 escudos por trimestre, isso levou a que um colégio de 120 alunos, no ano seguinte passasse dos 400. Nada mudou? Mudou tudo, para quem pouco tinha.
Escrevi textos inflamados imitando políticos, contestei professores, políticas, mas nunca me encantei com a URSS de Brejnev, como a Zita Seabra, com a China de Mao Tse Tung, de Burão Barroso, nem com a Albânia de Enver Oxa, como Francisco Louçã. Sempre pensei que com um passado de povo de vanguarda, podíamos ter tentado uma solução diferente, não sei qual.
Mas na minha cabeça, esta democracia de pirâmide com o poder concentrado no vértice, não me diz muito, preferia em pirâmide invertida, que diluísse o poder na base. Mas nem na minha cabeça isso está claro, só tenho uma certeza, não sendo “isto” bom, é muito melhor que ditadura.

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