domingo, junho 5

Ensaio sobre a dúvida


Hoje é domingo e eu estou confuso por demais. Não sei de todo quem sou.
De todos os quatro; Mello, Joaquim, Carrapato e Felizardo, quem é o “eu”?
Quem de entre os quatro criou quem? Quem foi criado? Por quem?

O Felizardo não é definitivamente um criador. É pouco mais que uma anedota, nasceu certamente numa sexta-feira 13 e deu isto. Parece ser aquele filho que rouba para drogas, que envergonha o pai. Anda por aí, porque não se pode matar um filho, é anti-natural. E é impossível “descria-lo” enquanto não se identificar o autor de tal desvario. Está fora de hipótese, arruma-se.

O Mello é esperto, pode ser ele? Assina um blog, mas parece ter mais “pose” que conteúdo. Muito daquilo de que ele se ufana é escrito pelo Joaquim e pelo Carrapato. Só com uma grande doze de boa vontade o imaginaria a criar personagens, principalmente estas duas últimas que claramente lhe são superiores. Descartá-lo-ia como criador. Mas será criatura de quem?

O Joaquim já é uma hipótese mais viável. Não me admiraria se fosse o criador do Mello, parece ter-lhe emprestado características; ateu, livre-pensador, desalinhado de esquerda, e talvez sem querer um pouco de vaidade e convencimento. Também me parece possível que num momento de saudável loucura tenha criado alguém tão estapafúrdio como o Felizardo. Já me causa espécie, ver o Joaquim como criador do Carrapato. É demasiado convencido para deixar viver alguém capaz de lhe fazer sombra.

O Carrapato é de todos o mais consistente. Homem de uma enorme sensatez, apaixonado, tem contra si a falta de cultura livresca para criar o Mello e o Joaquim. Não fora isso, eu apostaria todas as fichas nele. Também é demasiado sensato para a “aventura” chamada Felizardo. Fora isso, seria o criador mais provável. A melhor aposta.

Face ao exposto e pesando os prós e os contras, inclino-me para a hipótese de criador ser o Joaquim. Ele tem um grande motivo. Face à sua circunstância, criou os outros e deu-lhes asas, pô-los a voar. Mas, sendo assim, cometeu um erro que não parece possível nele. Esmerou-se demais no Carrapato. Corre o risco de a Criatura superar o Criador e ainda ter desgostos.

Será mesmo assim? Não sei. Sei que estou preso num labirinto de suposições e perguntas. Apetece-me pedir a alguém que agarre na ponta dum fio e me venha libertar. Mas libertar quem, se eu não sei quem sou…?

(especulações de uma noite de insónia)

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