domingo, abril 6

Joaquim António Godinho - Escritor



PALAVRAS FORTES

Voltemos ao meu constante fetiche; as palavras.
Tenho um amor profundo por elas, gosto dos autores que as recriam, lhes dão asas, formando conceitos novos, improváveis significados. Adoro palavras que ganham a cara de quem as usa, o que só acontece aos eleitos.
Eu tenho três palavras de que gosto muito, me acompanham sempre; Liberdade, Solidariedade e Reciprocidade.

Liberdade é tudo. Não uma qualquer liberdade, a de pensamento, que não contende com a de ninguém. Eu penso na maior liberdade, só me limita a imaginação. Por isso, gosto de escrever loucuras, umas, não tenho vergonha de as mostrar, outras, escondo-as para não interferir com a liberdade alheia. Porque há quem se incomode com o pensar alheio, por falta de amplitude imaginativa

Solidariedade é o mais nobre dos deveres. Deve ser exercida com respeito, para não ser confundida com caridade. A caridade vem de cima, não respeita quem a aceita e envilece quem a faz. A solidariedade é sempre uma troca entre iguais, onde todos ganham. Todo o homem inteligente é um ser solidário.

A reciprocidade, é-me muito cara. Por contingências da vida, vivi muitos dos meus anos sem a conhecer, num mundo de sentido único, não sabia o que era receber, só tinha hábitos de dar. Um dia, percebi que não havia só vias estreitas nos meus caminhos, também eu podia circular em autoestradas, com uma faixa de retorno. Desde esse conhecimento, até a liberdade e a solidariedade ganharam novos valores e eu só aceito uma troca justa. Dar o mesmo que recebo.

Há dias, tive a ousadia de inventar uma palavra e dei-a de presente, como se fosse uma flor, que ficou a pertencer só a duas pessoas. É mais importante que as outras, porque é única e secreta, só nós a sabemos usar e lhe conhecemos o significado.

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