domingo, abril 20

CARTA A UM CRÉU



“Compreendo-te. Ser-te-á muito difícil agradeceres a vida que tens! Te humilha para ficares mais nobre”

Começo pelo princípio, não entendo o prazer que as pessoas sentem, ao trazer para a esfera pública, a vida privada de cada um. Seja a vida “que se dá como ser miserável” dos outros, seja a sua, recheada de pertences. Os nossos íntimos conhecimentos sobre os outros, pertencem à esfera privada e aí devem ficar.
Este “compreendo-te”, não passa de uma falácia, ninguém compreende ninguém, a não ser que vista a sua pele. Ninguém compreende o outro, principalmente quando, quase certamente se não entende a si mesmo.
A segunda frase, “ser-te-á difícil agradecer a vida que tens!”, é típica de alguém profundamente racista e com um pensamento ultrapassado, produto do Estado Novo bafiento.
Não me atribuam desgostos que não tenho, nem processos de intenção, nunca arderei na fogueira, pelo pecado da inveja. Ninguém é o que é por raiva ou ressentimento, é-se por opção racional, o contrário é menoridade intelectual e prefiro não qualificar quem assim julga os outros.
Eu nasci e fui batizado, como qualquer outro católico, e foi isso que fui até me interrogar. Não percebia porque as pessoas que se humilhavam no altar, perante o seu Senhor, eram arrogantes para com os fracos, aqueles a quem “é muito difícil agradecer a vida que têm”, ao ponto de se considerarem os únicos donos da verdade.
Eu não me contentei com a “verdade revelada”, como um pobre creu, fui em busca de uma verdade entendida. Li os livros das três grandes religiões monoteístas e por mais que me tivesse esforçado, não consegui encontrar um Deus em nenhuma delas. Encontrei entidades despóticas, cruéis e vingativas, como na raça humana.
Na história, sempre que se fala de religião, vem um rol de guerras, perseguições, genocídios e horrores.
É verdade que nunca frequentei um seminário, essas imensas fábricas de humildes donos da verdade inexplicável e de tarados que vamos conhecendo aos poucos, nunca me fizeram lavagem ao cérebro, felizmente.
Mas duvido muito, que se tivesse acontecido essa desgraça comigo, me tivesse contentado em ser humilde como os bois. Mesmo que não obtenha respostas, eu nunca deixarei de fazer perguntas.

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