terça-feira, março 4

TRANSUMÂNCIA E CHARME



 A vida do meu bisavô Luiz Ferreira, dividiu-se pelo século XIX e XX. Já nesses tempos longínquos, foi homem que nunca gostou de trabalhar para ninguém. Achava que homem que se prezasse, não devia permitir que outros bebessem do seu suor e optou por uma profissão liberal.
Não! Não era advogado, nem político, foi sempre um homem sério, era cabreiro. Tinha um rebanho próprio e como não era proprietário de terras, fazia transumância. Percorria todo o distrito de Portalegre, apascentando as suas cabras nos valados das ribeiras e nos baldios, (num tempo em que ainda os havia, porque durante o Estado Novo, os latifundiários roubaram-nos todos, hoje muitos dos nomes sonantes alentejanos, descende de gente muito pouco respeitável).
O meu bisavô, sempre que se aproximava de uma aldeia, montava o choço e por aí ficava, enquanto a pastagem dava alimento aos animais. Durante esse tempo, ordenhava as cabras e vendia o leite e os cabritos.
Tornou-se conhecido por todo o distrito e dizem as más-línguas, que semeou muitos filhos, não se fazia rogado às moças casadoiras.
Eu acho que o bom do velho Luiz devia ter alguns dotes de oratória, ou outro dote escondido, porque, a julgar pela figura, não se compreende como levava o mulherio no bico.
Bom! Mistérios de outros séculos.


Sem comentários:

Enviar um comentário