segunda-feira, março 3

DIÁRIO D’UM SOBREVIVENTE



----- “ OS DIAS II “ -----

Estas pessoas viviam encurraladas na sua própria consciência, principalmente os que não tinham possibilidades de emigrar deste país de cemitério, onde reinava uma paz podre.
Eu não tinha consciência, evidentemente, mas acho que pelos meus doze anos, já me questionava. Porque havia sempre pão em minha casa e noutras não? Porque havia miúdos descalços todo o ano? Lembro do olhar de alguns amigos, se entravam em minha casa em hora de refeição, só mudava, quando eram convidados a sentar à mesa.
Lembro-me das Esquinas apinhadas de homens, parecia uma Praça de Jorna, homens que ficavam parados, quando não faziam falta. Os mais acanhados, só trabalhavam nas campanhas, azeitona, monda e ceifa, de resto, ficavam sentados às Esquinas, a ver o tempo passar e a tentar esquecer a fome.
Nunca me lembro de o meu pai estar sem trabalho. Tinha trabalho ao ano, que era certo mas sem horário. Talvez por isso, em minha casa nunca faltou pão, leite, ovos, carne, produtos da horta e eu e o meu irmão, sempre nos vestimos por inteiro.

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