sexta-feira, março 28

Joaquim António Godinho - Escritor



DOIS SÓIS

Ele, era um homem com uma timidez disfarçada e um passado de vida muito complicado.
Ela, uma bela morena de sorriso fácil e cabelo enrolado, num corpo perfeito de bailarina e uns atraentes olhos saltitantes.
Encontraram-se numa tarde escura, oprimida por um céu de nuvens baixas e plúmbeas.
Ele, filho e amante do Sol, percebeu nessa tarde que já não o necessitava. Havia dois, nos olhos dela!
Continuaram a ver-se nesses dias, num jogo de toca e foge de olhares. Uma linha invisível prendia-os, por mais que lutassem contra o poderoso magnetismo que aumentava.
Conheceram-se, deslumbrados com aquela paixão e desnorte mútuo. Foram tempos de conversas viciantes, confissões, poesia e cartas de amor.
Amaram-se uma única vez e não foi bom. Ele, por insegurança e a consciência de que não tinha direito de tocar o céu. Ela, talvez por o sentir fraco. Quem sabe?.
Para ele tudo “aquilo” era nada, para tanto amor.
Ela um dia partiu, ele ficou a colar os cacos, a refazer-se, como sempre tinha acontecido.
Depois, construiu um ninho quente para aquele sentimento. E deixou-o a hibernar num canto soalheiro do coração, com janela para o improvável…

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