domingo, junho 20

Os cães ladram...

Estive a ler no L'Osservatore Romano o obituário dedicado a Saramago,“A (presumível) omnipotência do narrador”, assinado por Claudio Toscani.
O meu italiano não é grande coisa, mas foi suficiente para perceber o que o jornalista escreveu.
Uma espécie de uivo a um morto.
É normal os cães uivarem quando lhes morre o dono. Este jornalista devia, embora que incosciente e secretamente, admirar muito o escritor.
Não é normal atacar assim quem não nos diz nada e é vergonhoso atacar um morto.
Seria admissível, sendo sempre despresível no dia de hoje, este artigo noutro qualquer jornal.
No orgão oficial da igreja, nunca.
Saramago não acreditava no deus do sr Toscani. Mas se por uma remota hipótese esse deus existisse, certamente amava muito José Saramago, para lhe ter dado uma vida tão cheia.

Não seria mais justo esperar pelo julgamento do deus em que acreditam?

3 comentários:

  1. Sem entrar no mérito da lamentável publicação do órgão eclesiástico, existem fatos históricos a serem analisados antes de um fulcro em situações hipotéticas: Martinho Lutero foi ministro católico por muitos anos, rebelando-se contra os dogmas do catolicismo que contradiziam as verdades bíblicas. Fundou a igreja protestante, alicerçado naquilo que realmente se encontra nas escrituras, mas foi perseguido implacavelmente pela inquisição, sofrendo provações de toda a espécie. Moisés, mesmo sendo amado, ficou vagando,passando privações pelo deserto com o seu povo, durante quarenta anos. Chegando à fronteira da terra prometida - onde emanava leite e mel - morreu sem poder adentrá-la. Mesmo sendo homens muito amados, não tiveram uma vida tão cheia como a comparação que foi feita entre a vida do escritor e o fato de ser ou não amado.

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  2. Porque há atitudes que, por indignas, devem ser ignoradas, não quero falar sobre o indecoroso obituário assinado por Claudio Toscani no Jornal do Vaticano, “L’Osservatore Romano” sobre o “provocador” Prémio Nobel da Literatura, intitulado “A (presumível) omnipotência do narrador. Prefiro louvar o


    VOTO DE PESAR PELA MORTE DE JOSÉ SARAMAGO


    O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura expressa o seu pesar na morte de José Saramago, grande criador da língua portuguesa e expoente da nossa cultura. José Saramago ampliou o inestimável património que a literatura representa, capaz de espelhar profundamente a condição humana nas suas buscas, incertezas e vislumbres.

    Como é público, o cristianismo e o texto bíblico interessaram muito ao autor como objecto para a sua livre recriação literária. Há uma exigência e beleza nessa aproximação que gostaríamos de sublinhar. O único lamento é que ela nem sempre fosse levada mais longe, e de forma mais desprendida de balizamentos ideológicos. Mas a vivacidade do debate que a sua importante obra instaura, em nada diminui o dever da cordialidade de um encontro cultural que, acreditamos, só pode ser gerado na abertura e na diferença.

    Lisboa, 18 de Junho de 2010

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  3. “O filho de José e Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo”. Em Evangelho Segundo Jesus Cristo.

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