quarta-feira, junho 23

Novas Oportunidades

(continuação)

A Minha Fotografia (3)

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Como ser “ninguém” é muito triste e eu não sou do tipo acomodado, a páginas tantas comecei a criar amigos, (heterónimos), que me desafiam, põem-me em causa. É o tal desafio que refiro, defender pontos de vista em que não se acredita, vestir outra pele.

Com consistência e vida própria, são três. O Alexandre Mello-Alter, o Joaquim Carrapato e o Felizardo Montanelas. São três figuras, ou figurões, em tudo diferentes como se pode perceber. O primeiro trata os outro dois com condescendência superior e é tratado com respeito por um e “um pouco mais ou menos pelo outro”. Os dois últimos não se conhecem e desconfio que nunca gostariam um do outro.

Passo a apresentá-los:

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O Alexandre é o mais antigo, não o mais velho. Acho que nasceu comigo mas começou a tomar consciência de si há 15, 20 anos. Tem 50 anos, entendido em direito e história, tem opinião sobre tudo e gosta de exprimi-la, por isso tem um blog. Por vezes fala do que não entende, mas como é esperto, por aproximação vai lá. Consegue disfarçar. Gosta de se definir como “livre pensador”, “místico” e “desalinhado de esquerda”. Não respeita poderes nem instituições e gosta de escrever palavras impactantes, duras. Escreve como quem atira pedras.

Deixo um texto que escreveu na altura da Greve dos Juízes:

(…)

O Joaquim Carrapato é pastor de rebanhos que não são seus, anda na casa dos 60 anos e sem grande instrução, tem saber empírico. Gosta e cita de cor quadras de Aleixo, é católico não muito praticante e grande respeitador das pessoas importantes. É um pouco saudosista dos tempos em que, como diz; “um mandava e todos obedeciam, ao contrário de agora, que todos mandam e ninguém obedece”. É um tanto ingénuo.

Deixo uma carta dirigida ao seu compadre e ídolo, Mello:

(…)

O Felizardo é o mais novo. Nasceu em 24/04/74, foi o último grito do Estado Novo. É homofóbico, machista, (adormece e acorda a pensar em gajas), fanfarrão e tem muita garganta, (gaba-se constantemente das suas muitas conquistas). Não tem jeito nenhum para a poesia, mas como em tudo, pensa que é o maior. Nasceu e vive no Bairro do Outeiro em Alter do Chão e gosta de se intitular, “O Gavião do Outeiro”. Usa bigode e patilhas, unha comprida no dedo mínimo e tem todos os tiques e gostos popularuchos.

Aqui fica uma das suas intervenções públicas:

(…)

Ficam apresentados assim em traços largos os três “amigos” que vivem comigo.

2 comentários:

  1. Fantástico! Achei giríssima a nota da unha comprida do dedo mindinho do Felizardo e aposto que o estica quando bebe a bica..

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  2. Claro que estica.
    E serve para coçar o nariz, os ouvidos e outras partes mais recônditas.

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