sábado, junho 26

Novas Oportunidades

Eutanásia

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Nos tempos que correm ainda é tabu. Ao ponto de se ouvir dizer, quando uma discussão se aprofunda demais: “Ainda vamos parar à eutanásia!”. Tenho também a ideia que é um assunto que assusta. A ideia de pôr um ponto final na vida é estranho, estava ligado só ao suicídio, o pecado que levava a um funeral quase clandestino. O inferno para quem partia e a vergonha para a família.

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Acompanhei o desenvolvimento do caso Englaro (a jovem italiana em coma por quem o pai lutou contra os tribunais para que lhe desligassem as máquinas). Afligiram-me muito as pressões da Igreja. O último “descaro” do Ministro da Saúde pressionando a clínica para não cumprir a ordem do tribunal. Mas fiquei com um profundo respeito pelo pai, que amava tanto a filha, ao ponto de preferir vê-la partir e acabar com todo aquele sofrimento. Não deve ser fácil um pai lutar tanto para conseguir que o filho morra.

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Mas o caso mais emblemático para mim é o do espanhol Ramón Sampedro. Aqui é eutanásia pura. Um homem que, em plena posse das suas capacidades mentais, decide que não quer viver assim, prefere acabar com alguma dignidade, não pode ser contrariado. É um caso de auto-determinação. Não percebo como alguns sectores de pensamento defendam com tanto afinco o direito à vida e se esqueçam do direito à morte.

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Não percebam que, tendo toda a legitimidade para fazê-lo, no aborto, o direito à vida não é um direito absoluto, interfere com outros direitos fundamentais. Ao passo que na eutanásia, não há outros direitos em causa.

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É uma decisão que deve ser acompanhada por especialistas, ter o seu tempo de maturação e, depois de se chegar à conclusão de que não há equívocos, ser executada a vontade do requerente.

4 comentários:

  1. Existem aspectos que há muito tempo já deveriam ter sido considerados antes de qualquer decisão a respeito desses cruciais fatos: o aspecto democrático (poder emanado do povo); o aspecto moral (princípios e valores) e o aspecto de saúde pública (dever do estado de atender e custear esses casos). Em face da negligência política secular de se equacionar tais aspectos, hoje se corre o risco irremediável de pecar ou não ao praticar ou deixar de praticar tais atos.
    O maior desespero é que esses casos são reais, presentes e imediatos.

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  2. Amigo, esta é uma questão que já deveria estar resolvida há muito tempo. É uma questão de falsa moral, pois para lá do direito à vida eu ainda vejo uma condenação à vida. Ninguém deveria ser condenado a viver. Hoje em nome da medicina praticam-se os mais atrozes actos de forçar a vida. E a saúde funciona como outro negócio qualquer: quanto mais tempo se vive e então se for com dependencias, mais lucro se dá ao sector da saúde.
    A vida defendida da forma que hoje o é, serve apenas para os lucros de quem trabalha na saúde, independentente da vontade e da necessidade da pessoa humana.
    ZDE

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  3. O Direito á Morte deve ser consagrado como um dos Direitos do Homem.

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  4. Conforme a sociedade se moderniza, também a crueldade acompanha esse desenvolvimento. Comparativamente, seria simples criarem-se leis para aplicação da pena capital em casos de clamor público, entretanto fica a pergunta: isto é um avanço ou um retrocesso? O poeta Vinícius de Moraes já dizia que o buraco é mais embaixo. Há circunstâncias em que o estado jamais poderia dar pitaco, como no caso de se exigir documentalmente do cidadão a informação de ser ou não doador de órgãos. Estas são questões de ordem moral, subjetiva e individual, não se admitindo a interferência do poder público.

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