sexta-feira, dezembro 14

24 – Os lobos grandes «Luar dos Dias»



Uma fábula com um fundo de verdade. História de 2009.

Os lobos grandes

O meu trisavô, Zé Ratinho era um homem pequeno de estatura, uma característica de que ele parecia não gostar muito. Então compensava esse aborrecido “handicap”, com um carácter destemido e uma imaginação muito fértil. Sempre que se aventurava pelos campos de noite, trazia histórias arrepiantes para contar, de lutas com lobos ferozes e descomunais. Ao ponto de se dizer que “fazia os lobos grandes”.
Um dia em que precisou de ir a Chanca, a pé como era costume na época, quando voltava para Seda, armou-se uma enorme trovoada. Tinha duas hipóteses; ou seguia o caminho normal e levava com a tremenda borrasca, ou cortava caminho pela Barroca das Serpes, apesar de todos os perigos.
A Barroca das Serpes, ainda hoje, é um lugar soturno. Naquela época, fins do século XIX, quem por lá se aventurasse de noite, tornava-se certamente repasto de alcateias.
Ele decidiu-se pelo caminho mais curto, cuidando passar os perigos antes de a noite acontecer. Mas, ou por ter calculado mal o tempo, ou por influência da enorme borrasca, o breu da noite deu-se muito cedo, quando estava mesmo no coração do perigo.
O concerto de sons na noite era aterrador. Sentiu-se seguido. A sensação de perigo, já tão sua conhecida, invadiu-lhe todo o corpo. Apressou o passo.
Num momento em que os raios do luar romperam a abóbada de negras nuvens, viu-o a cortar-lhe a passagem!
Era o maior lobo de que tinha memória. A fera mediu-o, avançou.
Primeiro lentamente, depois a mata-cavalos. Fez o salto, a enorme bocarra escancarada. O meu pobre bisavô, só teve tempo de esticar o braço. Enfiou a mão pela garganta do bruto, chegou ao outro lado, agarrou e puxou-lhe o rabo. E o lobo ficou virado das “avessas”.
- Só visto! - Contava ele…

- j a godinho -

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