sexta-feira, abril 26

SE TEM QUE SER....



Vou-vos falar sobre paradoxos, encruzilhadas, o que somos e o que queremos mostrar.
Quem escreve mostra-se em cada palavra, mas tem o sonho de ficar escondido. Como se entende este desejo de sombra de quem se quer mostrar, ser lido, dar-se à luz?

Não sei, mas …
Porque será? Como se explica esta dicotomia? Vaidade envergonhada? Falsa modéstia? Ou será o interesse? Sim! Porque alguém quando edita uma obra, por mais modesta que seja, tem o desejo de se fechar, penso eu. Nesse momento já de alguma maneira, mesmo que inconscientemente, partiu para outra. Fecha-se não por modéstia, mas por vaidade. O criador só tenta esconder-se para criar “suspense”, para abrir bocas de espanto, mesmo que sejam poucas, na próxima obra.

Não se trata de vendas no meu caso, nos outros não sei, mas de leitores, de ser conhecido e reconhecido, se possível.

Eu sou um modesto escrevinhador dos confins alentejanos. Se um incógnito “chaparro” com pouca cultura pode atingir este nível de hipocrisia e dissimulação, pode seguir estes caminhos tortuosos do pensamento, imaginem o que alguém realmente bom, pode fazer com este jogo de luz e sombra. É mesmo de luz e sombra que se trata.

Por que é muito bom ter aqueles quinze segundos de fama. Ouvir alguém dizer; “li, gostei muito”, “não te imaginava a escrever tão bem”, “recebi e li numa noite”. Ou alguém entendido dizer que, “a tua poesia tem que ser relida e trelida, para se apreciar plenamente”.

Imaginem o que é alguém que nunca pensou escrever um livro, escrever um segundo. Tê-lo na mão, este sim todo obra sua, e perceber o salto de qualidade em todos os aspetos. Entender que com recursos escassos conseguiu um resultado muito bom. E ter eco dessa qualidade todos os dias.

Alguém a quem nunca passou pela cabeça escrever para ser lido, editar dois livros em dois anos. E neste momento estar escondido, não por modéstia, claro, mas para criar suspense para o próximo que já anda na cabeça.

Eu devia estar a falar de mim. Não sei se o fiz ou mesmo se valeria a pena fazê-lo. Mas basicamente, sou “um vaidoso”, como diz o Dr. Júlio Couto. E não é isso que somos todos os que sonham viver entre luz e sombra?

Joaquim António Godinho (19/04/2013)

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