quarta-feira, abril 24

LAREIRA



Sentados à lareira em bancos de pau feitos, meros troncos que se juntavam e serviam.
Era uma roda de bancos à volta daquela lareira que, já pouco existe, a não ser o local. Agora, remodelado por uma linha qualquer ergonómica e estética para ser uma cozinha. Antes, grande, ampla e viva. Agora, clara, pequena e morta.
Jaz sem vida aquela cozinha, onde se ouviam histórias da vida, do cultivo da monda, das colheitas e do tempo que, sempre ou nunca ajudava, ou, se ia ter uma boa colheita por o tempo ter sido bom.
Tempos idos e bem garridos foram os que o calor de agora o frio daqueles tempos apagou!
Dos risos soltos nada sobrou, até o eco, o vento levou para terras distantes e, desabitadas, onde o povo gemeu e chorou, por não ter condição, por ser um ser farto da solidão. E, por ambição, partiu, em direcção, não de si, mas da ilusão de uma vida digna, de labuta honrada que deixa a pele estragada, os ossos feitos em nada e, o coração despedaçado.
Dessa lareira, nem a pedra sobrou! Foi dada para abate triunfal de uma sociedade restaurada por homens sem coração porque, a ambição chama mais alto que qualquer clamor apaixonado, clarinete desenfreado e, sem horas para nada. Eram tempos que o tempo dependia do tempo que se tinha e havia.
Sobrou a saudade do nada que antes se tinha e, se tem medo de aceitar... O amor pela lareira que reunia a família inteira.

Matilde Rosa


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