quarta-feira, maio 8

Especulações sobre uma foto …



Não se é escritor no início nem no fim de um trabalho. Quem escreve, revela-se em plena escrita e na facilidade com que dá a volta ao texto.
Hoje deram-me como tarefa escrever sobre uma fotografia, que passo a mostrar:
Rua de terra batida, larga e solarenga, casas de um só piso e janelas estreitas, chaminés grandes e simples tipicamente alentejanas e pequenos vasos de flores na rua. Um carro típico anos oitenta e a menina. Bonita, cabelos pela orelha e laçarote, bibe de escola e mochila cor-de-rosa. Peúgas brancas e ténis azuis. O rosto é miúdo, nariz curioso e olhos ainda anteriores aos sonhos.
Agora faço um esforço e transporto-a para dois mil e doze, vinte e tantos anos depois. O que encontro?
A menina, continua lá, igual nas feições, temperadas com a doçura própria de como diria o poema, “as primaveras que tem”. O corpo franzino, parece alta sem o ser.
Os mesmos olhos, agora com o toque dos sonhos constantes. O cabelo que lhe ficaria a “matar”, está mais comprido, infelizmente. O rosto agora não sorri envergonhado, abre-se facilmente encantador. Continua miúda, gosta de desafios e fala muito. Aqui que ninguém nos ouve, é um disfarce. Continua tímida, mas isso só é percetível a quem chega muito perto, ou tem facilidade em ler pessoas.
Tornou-se amante de desafios, gosta de os enfrentar e vencer por dentro.
Para terminar, confesso, não foi nenhum desafio. Fecho os olhos e tenho na minha frente o antes e o agora. Bastou-me comparar e descrever sensações.
Seria bonito, e arriscado, tentar vê-la e desenhar-lhe os traços em dois mil e trinta e quatro, com cinquenta anos.
Terá rugas na boca, patinhas de galinha nos cantos dos olhos, será mais forte e serena, com a ternura que vem após os quarenta, quando as metas já não são assim tão importantes, nem há pressa de as atingir.
Mas, aposto com quem cá estiver, será uma balzaquiana bonita.

- j a godinho 06/05/13 -

Sem comentários:

Enviar um comentário