Eu
sou uma criança, por isso estou muito contente por ser hoje o Dia da Criança. É
verdade que este dia devia ser sempre, mas mais vale um dia que nenhum, como os
homens coitadinhos que não têm dia nenhum. Dantes, não tinham também dia deles,
mas tinham trabalho, hoje todos os dias são Dia de Desempregado, passam o tempo
sem ter com que brincar e a ruminar ameaças contra os filhos da Piiii, do
governo, mas não passam das ameaças, porque os homens portugueses são mansos
como os bois e quando por fim lhes começarem a nascer os cornos, já não terão
força anímica, (como o analfabeto do Relvas), para os usar.
É
verdade, eu sou uma criança já muito grande, não tenho brinquedos nem nada
disso, mas brinco com palavras e ideias e divirto-me a atirar pedras a algumas
bestas que conheço. Nada que os incomode, eles como bons portugueses que são,
também são mansos e não há pedrada que os afaste da gamela onde refocilam e se
por uns momentos se descuidam, há os porcos de outra cor a grunhir pela sua
vez.
Mas
vamos mudar de assunto. Porque é que eu, mesmo grande, sou criança?
Ora!
É muito simples. Eu tenho o que só as crianças têm, uma pediatra, mas a minha é
linda de morrer. Tem uns belos olhos polinésios, rasgadinhos e o sorriso mais
bonito que já vi. A boca é doce e macia, eu sei isto, porque ela, antigamente
beijava-me muita vez e era muito bom.
Agora
está triste, já poucas vezes me beija e eu sinto falta.
Tenho
vontade de crescer, me tornar um homem desempregado e manso que rumina ameaças,
ou se for esperto, tentar apanhar um bom lugar na fila da gamela dos outros e
tornar-me porco como eles.
Eles
são assim porque em criança não tiveram uma pediatra bonita que lhe desse
beijos.
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j a g -
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