segunda-feira, março 4

Amigo é sempre amigo ...



Para gente como eu, amigo é sempre amigo.
Faça o que nos fizer, estejamos afastados o tempo que estivermos.
Ficámos na mesma turma, ele a Mafalda e eu. Sentámo-nos na mesma enfiada de carteira, iniciámos assim uma amizade que durou o ano letivo inteiro.
Muito nos divertíamos a descer a Estados Unidos, a Avenida, dançávamos a desviar-nos dos cócós dos canitos das madames, como três elefantes, meninos já grandes, 14, 15 anos.
No carnaval inventámos empestar a escola com produtos químicos, nós, o Francisco e eu fomos os mandantes, até os anéis de ouro das nossas colegas, o terrível químico comeu. O que nós nos divertimos a planificar a acção, envolvemos a escola toda, pagámos e não mexemos uma palha!
Com ele experimentei cerveja, não suportava, sempre vomitava, só de cheirar, mas insistia. E, ele, amigo, tomava conta de mim, no meio de todo o pessoal: procurava-me, ia até mim, eu ficava para trás, ele bom rapaz, segurava-me a testa, enquanto eu cantava ao gregório e, sempre ia dizendo:
- Na próxima ficas ao meu lado! Eu bebo, eles não dão por nada!
É a juventude, de ontem, de hoje, de sempre!
As idas às discotecas, eram uma charada para nós, o Chico inventava coreografias, a Mafalda não alinhava, e nós dávamos show de trapalhada. Nos concursos dos grupos novos, os que se queriam ser lançados no mundo musical, nós torcíamos pelos que não valiam nada, e riamos.
As tardes ensolaradas nos jardins dos Corjéus, olhávamos as nuvens, os pássaros e inventávamos históras, cantavamos a desgarrada a ver quem tinha mais piada.
Tinhamos ataques de carência, e beijavamo-nos loucamente, os três da vida airada, sem malícia ou despique, eramos só um naquele momento.
O Chico até teve namorada! Era a Vânia? Nem me lembro! Ele ia namorar, o que nos dava uma grande trabalheira, subir a avenida, percorrer a avenida e sobe a rua, para a ir visitar e, as paus de cabeleira iam atrás, A coisa não durou muito tempo, ela não aguentou, ele ficou triste, mas foi só por um momento, ia lá trocar a namorada pelas duas amigas?
As tardes de estudo em casa de um deles era sempre tarde de não fazer nada, mas começávamos, terminávamos era a dormir ou a lanchar, sem o estudo acabar.
E, há muitas mais histórias que não vale a pena contar.
Depois estive muito tempo sem o ver.
Vi-o de fugida num autocarro no Rato, ia com uma nova amiga. Gostei dela.
A última vez que o vi, estava em lua-de-mel. Ia sozinha a atravessar a estrada, e quem vejo no outro lado da rua? Vimo-nos em simultâneo, nem houve tempo para falar! Pegou-me ao colo, saltou comigo no ar, abraçou-me, beijou-me como nos bons velhos tempos. E comigo em final de passo de tango, pergunta-me:
– Que fazes aqui?
– Estou em lua-de-mel!
Endireitou-me, verificou se estava inteira e, pergunta-me:
– Onde está o teu marido!
– Ali! Apontei.
Correu a justificar-se ao meu marido que compreendeu.
– Ufa! Esqueço-me que cresci!
Nós ainda somos assim! Filhos de uma raça que não tem pudor nem maldade e, vive com ou sem fantasia. Até breve!

(Matilde Rosa)

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