sexta-feira, julho 2

Novas Oportunidades

(continuação)

A Minha infância (4)

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O meu exame teve algo de rocambolesco. De manhã fazia-se a prova escrita e de tarde a oral, a ida ao quadro, aos mapas, etc. Como a examinadora não me quis incomodar fazendo-me levantar da carteira, propôs-me escrever os problemas no quadro e eu ir-lhe ditando a resolução. Era uma coisa banal para um aluno da Dona São e para um miúdo de onze anos, mas os alterenses exagerados logo decretaram ter sido o melhor exame dos últimos anos.

Para mim foi um dia especial, porque quando acabou o exame, o meu pai estava á minha espera com o meu primeiro relógio de pulso.

Fiz a telescola também em Seda, com a mesma professora. Era uma turma pequena, (12 alunos), muito homogénea, e talvez muito devido á grande competência da Dona São, e porque não dizê-lo, á sua mão pesada e ligeira, fomos a melhor turma desse ano que fez exame na Escola Comercial e Industrial de Portalegre.

No ano seguinte fui para o colégio de alter. Foi complicado. Estava habituado ao aconchego de ter um professor, uma pequena turma, mas adaptei-me.

Nunca tive problemas de relacionamento, mas vi coisas terríveis, o que se chama hoje bulling.

Estava no 4º ano em Abril de 74.

Lembro-me perfeitamente do dia. Manhã fria e chuvosa, saímos como todos os dias às 6,30 da manhã. Era assim nesses tempos, os miúdos saíam de casa pela madrugada e voltavam noite cerrada. O convívio com os pais era muito restrito.

Depois da volta habitual; Chança, Cunheira, Monte da Pedra, Aldeia da Mata, Flôr da Rosa, Crato e Alter, onde chegávamos depois das 8:00 horas, parávamos frente ao portão do colégio particular. Rapazes para um lado, raparigas para outro.

Mas nesse dia havia algo diferente no ar. No átrio das salas de aula, as funcionárias; Menina Teresa e Menina Antónia, ouviam um pequeno rádio onde não cantava o Mourão, o Artur Garcia, a Tonicha. Tocava coisas diferentes. Havia uma música ritmada que falava de fraternidade, de igualdade, de povo.

Acho que nos mandaram para casa a meio da manhã. E eu, miúdo de 14 anos, nem fazia ideia o quanto o meu mundo tinha mudado naquela madrugada.

Foi uma época excitante, tanta coisa nova a aprender…

(continua)

1 comentário:

  1. Pouco depois vieram as RGA e, daí para cá, a contestação nunca mais abrandou.
    Como diz o ditado: "Não há fome que não dê em fartura". Mas que foram bons tempos, ah se foram!!!

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