EM
BUSCA DE VIDA
Pablo Neruda escreveu, “Confesso que
vivi”, eu poderia dizer ou escrever, “Confesso que li, estudei ou sonhei”, mas
de vida tenho muito pouco. Vi passa-la pela janela, como a sempre agradável
paisagem, de quem viaja num comboio.
Vocês sabem que a vida é deslumbrante
para quem a vê de fora? Não temos acesso ao todo, mas só ao que parece, ao que
é possível de ser mostrado. A parte essencial é varrida para debaixo do tapete,
salvando as aparências.
Um dia parti por aí à procura de saber
como era a vida real. Como seriam postos em prática os romances que li, os
poetas que bebi com sofreguidão. Queria saber, mesmo que por fora, de longe,
como era a vida que eu via passar na minha janela com vistas para o mundo.
Não imaginam como é fácil obter respostas
quando se sabem fazer as perguntas certas, quando se orientam as conversas no
sentido desejado. Não, não é manipulação, é desejo de conhecimento e para se
chegar ao saber, os fins justificam os meios, defendo eu…
É muito fácil dizer para quem se sabe
nunca vir a encontrar, o que nunca se diria a um amigo, ou ao que poderíamos
ver ao dobrar da esquina. As pessoas falam de como vivem, das expetativas
goradas, de vidas sem interesse, abandono, falta de diálogo.
Foi um choque. Salvo raras exceções,
muitos raras mesmo, só conheci pessoas desiludidas com a vida. O retorno foi
muito diferente do que eu esperava.
Mulheres admiráveis, que não pediam mais
para ser felizes, que atenção e um pouco de carinho. Que se sentissem
importantes. E infelizmente perderam-se num mar de desilusões.
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