----- “ OS DIAS I “
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Tenho
memórias desses primeiros anos, não muito precisas, mas marcantes de como era a
vida nesses tempos. Uma rua pequena, casas minúsculas, completamente apinhadas
de gente. Lembro casas de duas ou três divisões, sem luz, água, ou saneamento,
onde vivia o casal, um velho e seis ou sete filhos. Crianças sujas, de olhos
fundos e barrigas grandes.
E
o lixo acumulado no fim de cada rua, pasto das galinhas que também viviam em
casa e ratos e moscas, enxames de moscas por todo o lado.
E
doenças, as febres, doenças que levavam os mais fracos, debilitados pelo
trabalho de sol-a-sol e mal alimentados e mal vestidos. Gente que era detida e
espancada por comer a bolota dos porcos.
Era
um país nojento este, habitado por um povo feliz por ignorância, apático,
conformado e manso como os bois, sem sonhar com outra forma de viver. Um país
que alimentava guerras e acumulava toneladas de ouro, roubadas da mesa dos
pobres.
E
uma pequena classe de privilegiados latifundiários e lacaios e bufos, muitos
bufos, sempre prontos a delatar, por inveja os mais esclarecidos. Os que tinham
coragem para sair de noite, para roubar o que era seu por direito.
Tempos muito difíceis, de verdade...
ResponderEliminarresistir era praticamente impossível...resistir era sinónimo de clausura e tortura.
Por isso o medo, por isso o silêncio.
Bj.
M.M.