- Acorda Fevereiro, acorda! Está na hora de
começares a pensar em trabalhar, em preparar o terreno para que, no dia dos
namorados, que também é, como sabes, o meu dia, não faltem flores lindas e
perfumadas para alegrar os corações dos apaixonados - disse, num sussurro, S.
Valentim.
- Está bem, está bem, – respondeu Fevereiro, ainda
ensonado – mas o Janeiro já foi embora?! Parece que ainda não dormi 366 dias…
- Claro que não dormiste, só dormiste 365, ou já
não te lembras que o foi o ano passado que tiveste o bónus de mais um dia de
descanso? Anda lá, não sejas preguiçoso, olha que os outros meses não têm a tua
sorte, todos descansam menos um ou dois dias do que tu, e, de quatro em quatro
anos, tu ainda lhes ganhas mais um! Ora toca a saltar da cama, já são horas!!
E Fevereiro acordou. Não acordou muito satisfeito,
queria descansar mais um dia, mas…
Mas… e porque acordou sem vontade de acordar, desatou
num choro desenfreado e convulsivo, que nem é bom lembrar! As suas lágrimas
eram tantas que encheram todas as nuvens vazias que descansavam no céu, os seus
soluços tão fortes que até o vento se fez mais vento, o choro tão audível, que
fez estremecer as nuvens! Enfim… e tudo isto porque o Fevereiro resolveu fazer
birra de menino mimado, melhor dizendo, birra de mês mimado! E as birras trazem
sempre consequências, ora vejam lá!
Pois, com todo este choro desenfreado, as pobres
nuvens (que até estavam a precisar de descansar!) não tiveram outro remédio que
não fosse abrirem-se em chuva, chuva bem forte, por sinal, não fosse a grande
quantidade de lágrimas nelas armazenada! E o vento, nem se fala! Deus meu!
Aqueles soluços provocaram um vento Sul tão forte que fez voar e espalhar
sementes por tudo quanto era terra! E o que dizer do som dos seus lamentos?
Lamentos?! Não! Não se pode chamar lamentos a uma gritaria daquelas! Era, isso
sim, o berreiro de um mês malcriado (claro, até nem cresceu os dias todos!) E,
com esse berreiro, com essa gritaria, as nuvens, ao chocarem umas com as
outras, assustadas, além de se abrirem em chuva, ribombaram em fortes trovões…
Bem, mas podemos dizer que, nesta
“festa-tempestade” o vento também deu uma ajudinha! É que o vento, quando quer,
é maroto!
Quando ele se sentiu atingido pelos soluços de
Fevereiro, em vez de os deixar esvoaçar em forma de brisa ou vento suave,
resolveu fechá-los num grande saco à espera da oportunidade que já vinha
adivinhando. Como sabem, o vento nunca está quieto, anda sempre de lado para
lado a saber as novidades, o grande alcoviteiro! E, nas suas andanças, ele bem
viu o que o Fevereiro fez às nuvens, como elas iam ficando tão pesadas à medida
que se iam enchendo, e ao ouvir os bramidos do choro, logo adivinhou que as
nuvens se iam assustar e… ora pois! Aqui é que entrou a sua maroteira! Quando
viu que elas estavam quase a chocar umas com as outras, abriu o saco onde tinha
fechado os soluços e soprou-os com toda a força do vento Sul, empurrando-as com
violência umas contra as outras até fazerem faísca. E, ao fazerem faísca, claro
está, ribombavam trovões e acendiam-se relâmpagos por todo o céu! Foi cá uma
tempestade de “se lhe tirar o chapéu!”
Mas, o mais engraçado no meio desta birra é “que o
feitiço se virou contra o feiticeiro”, ou seja, o Fevereiro pensava que,
fazendo birra, as plantas iriam pedir-lhe por favor, quase de joelhos para que
as ajudasse com um pouquinho de água, com um sopro de ar para espalharas
sementes… e ele, a fazer-se “muto rogado” lá sopraria um suspiro de vez em
quando, lá pediria a uma ou outra nuvem que derramassem um pouco de chuva… e as
flores ficar-lhe-iam eternamente agradecidas… Mas bem se enganou o orgulhoso
Fevereiro! É que as sementes que o vento espalhou, regadas com toda aquela
chuva, sentiram-se tão agradecidas que já despontam em lindas plantas que
florescerão para o dia de S. Valentim, ou seja, para o dia dos Namorados!
O nosso orgulhoso mês pequenino, que nem era mês de
muito pensar, nem sequer se lembrou do que as pessoas costumavam dizer dele:
«Quando não chove em Fevereiro, nem bom centeio nem bom lameiro». ou
…«Fevereiro, o mais curto mês e o menos cortês». Podia, pelo menos lembrar-se
de ter um pouco mais de cortesia para as plantas que floresciam nos seus jardins…
Enfim, um mês pequeno em dias e também pequeno em ideias… (ou não sejam ideias
que não possam ir além de 29 dias!).
Maria
La-Salete Sá (01/02/2013)
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