Uma certeza muito óbvia que se desfez em fumo.
Olhar
para trás
Foi um tempo muito complicado, como um
renascimento, ou a saída de um poço.
Uma amizade feita de muito tempo e muitas
conversas, apareceu inesperadamente na minha vida e ficou, ou foi ficando.
Eu estava a sair de um longo período de isolamento
e abriu-se uma janela.
Falávamos de tudo e foi assim que eu aprendi a
articular algumas palavras mais difíceis.
Consegui falar de mim, não como agora, porque ainda
estava a gatinhar, mas provavelmente foi com ela que eu dei os primeiros passos
para o que sou.
Estávamos muitas horas dos dias juntos, era a minha
única ligação ao “outro”, nos meus tempos de convalescença, esteve sempre
presente, matou-me a solidão.
Nunca vou esquecer os passeios que para mim eram
longos, só para mim, quando o meu mundo era pouco maior que a duração de uma
bateria.
Aquela tarde no Vale de Cardeiros, foi inesquecível
(para mim), como foi hilariante o incidente de Pêro Calvo.
O meu tempo e viver complicado, descomplicou.
Sabem como é o raiar do sol numa tarde de muita
chuva? Foi assim.
Um dia, não estava mais lá, tinha partido em busca
de vida.
Só algum tempo depois percebi porquê e eu tive a
certeza que nunca fui, nem poderia ser, nada para ninguém.
Tratei de lamber as feridas e refazer-me, tentando
manter-me longe do meu poço.
Hoje, rio-me da minha certeza antiga.
- j a godinho -
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