Uma história verídica passada na década de 60.
Memórias
Precisas
Ele era um menino muito
pobre, mais do que quase todos naquela época e andava descalço. Então para se
libertar da pouca fartura da sua casa, ia com o amigo passar as férias para o
monte.
E lá havia um grande palheiro quase vazio, com um pequeno cercado feito de
fardos de palha a um canto, onde estavam os bezerrinhos acabados de nascer.
E o pai, pendurava uma corda grossa nas vigas do palheiro e com uma acha
lisa fazia-lhes um baloiço.
Na eira do monte, aos lados de uma máquina de descarolar milho havia três
grandes montões; um de espigas de milho, outro de camisas e um outro de
carolos.
Eles espreitavam em que
parte do montão de camisas de milho o Tonho dos Carneiros fazia a cama e
durante as noites escuras iam atirar-lhe carolos de milho, e ele ralhava muito;
- Ah cachopos dum raio.
Um dia o Tonho dos
Carneiros apareceu com um saco às costas junto aos pereiros bravos onde
brincavam e dirigiu-se ao menino pobre.
- Olha meu menino, diz á
tua mãe que eu quero que ela te dê pra mim. Compro-te roupa nova, vais estudar,
- e abrindo o saco - tenho até aqui pra ti as botas dum rapazinho que morreu á
fome.
Ao menino agradou a ideia
até ao ir estudar, mas quando ouviu falar do motivo da morte, desatou a correr
para o monte, pegou na trouxa dele e voltou para casa da mãe. Só voltou uma
semana depois e afastava-se para bem longe sempre que o dos Carneiros dava as
caras.
O menino
muito pobre sabia o que era passar fome e imaginava o quanto devia ter sofrido
o rapazinho das botas. E se as botas lhe pegassem a maleita?
- j a godinho -
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