Coisas complicadas que por vezes me assaltam a
cabeça.
Memórias
Há ideias muito difíceis de expressar por palavras.
Estão na cabeça, como imagens ou sensações, mas verter em escrita é complicado.
Encontrar os termos certos, dispor as peças do puzzle no lugar adequado, é uma
árdua tarefa.
Lembro-me de uma maneira paradoxal; clara e
próxima, mas também difusa e perdida no tempo. Como se fossem memórias minhas,
mas também histórias contadas, como se me lembrasse de vivências de outras
pessoas.
Era Agosto, num fim de tarde quente e seco. Estive
sentado aqui, nas guardas da ponte, virado a jusante, durante não sei quanto
tempo.
Nunca, nem nessa altura nem agora, tinha pensado no
tempo que passou, nem no que se passou durante o tempo que não sei determinar.
Lembro-me claramente, agora, de não ter passado
nenhum automóvel. E há quarenta anos a estrada já tinha muito movimento.
De entre o muito ou pouco que se passou durante
esse pequeno ou grande iato de tempo, que me ficou gravado na memória e que só
recordei mais tarde, foram as imagens e os sons.
Leito de juncos da ribeira, semeado de uma manada
de vacas alentejanas, vermelhas, grandes, de longos chifres e ancas
descarnadas.
Mas ainda mais do concerto de sons. Á medida que mordiam
a erva, faziam soar á vez uma orquestra de chocalhos, de cores diferentes e
cada cor com vários tons. Ali uma manga, mais além um som mais agudo, acolá um
timbre corrido, misturado com uma campainha. E eu fiquei absorto não sei por
quanto tempo.
Hoje, ao olhar do mesmo ângulo, penso que tanto
podia ser há quarenta, quatrocentos ou mil e quatrocentos anos. A paisagem
continua lá, igual, como sempre.
O tempo só existe para quem o mede.
- j a godinho -
Ao ler este texto também tive vontade de viajar pelas minhas memórias... e essa vontade fez nascer alguma nostalgia...
ResponderEliminarRecordei o cheiro das maçãs temporâs que a minha avó guardava no sótão por cima da casa da eira! Que cheirinho tão bom a maçã malápio!
Obrigada por me levares às minhas memórias!