O cavalo Roberto e a égua Carlota
formavam um lindo casal. Desde a infância se tornaram amigos inseparáveis.
Saltavam, brincavam e relinchavam no prado, faziam tropelias, brincavam com as
margaridas do rancho Margarida, mas sempre com muito respeito por essas flores
que nasciam e cresciam espontaneamente no prado. As suas brincadeiras com as
flores resumiam-se a ver quem conseguia trotar ou galopar à volta do local onde
elas despontavam sem as pisar, sem as magoar, sem as estragar. E não é que as
flores entendiam a linguagem dos cavalos? Assim, sempre que um deles se
aproximava mais perigosamente, elas abriam-se mais em luz e cor, como que a
dizer-lhes «Cuidado! Nós estamos aqui!...». e, se por algum descuido, uma delas
se despencava do caule, logo o Roberto a colhia com mil cuidados, a acariciava
e oferecia, como prova de amor e dedicação, à sua amiga Carlota (isto,
porque ele sabia que a Carlota já não era apenas a potra amiga, mas algo mais,
era a potra por quem se sentia apaixonado e sabia também, mesmo que ela ainda
não o tivesse dito, que era correspondido nessa paixão.) Quando, como disse, a
colhia para oferecer a Carlota, a doce margarida ficava feliz, até se esquecia
da dor de ter sido cortada, pois sabia que iria mergulhar na água pura e
enfeitar uma linda jarra na estrebaria, junto à cama da Carlota.
Passaram uns dois ou três anos nestas
brincadeiras/namoro, até que resolveram casar. E, desse casamento, nasceram
mais dois belos potros que agora, pequeninos, corriam e relinchavam alegres por
esse prado onde os seus pais tanto namoraram, tanto se amaram e tanto se amam
ainda. E é uma alegria ver com que doçura, todos os dias esses pais cavalos
olham embebecidos os seus rebentos, Rebeca e Rocinante, sabendo que um dia as
suas crias queridas serão cavalos importantes!
Nota: Nem Carlota, nem Roberto sabem que
já viveram noutros tempos, nem sabem tampouco que o tempo pode ser parado e
mudado, senão já sabiam que o seu potro Rocinante já foi um cavalo muito
importante, já sabiam que este foi o cavalo de D. Quixote (aquele que dizem ter
sido um lunático maluco, só que não foi… quem diz não sabe que ele foi um
cavaleiro fabricante de sonhos e de magia!!!...). e, tal como o seu dono e
ilustre cavaleiro, Rocinante também foi um cavalo que sonhou e desenhou poesia
por onde passou!
E, nas brincadeiras pelo prado, Rocinante faz versos
às flores, desafia Rebeca com rimas… não será que teremos de volta o Rocinante
poeta?
De Maria La-Salete Sá
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