Agora que o meu compadre Carrapato se decidiu presentear-nos com a sua poesia, reedito uma carta muito sugestiva que em tempos me fez chegar.
Compadre Mello
Estou a escrever-lhe hoje, indignado com as injustiças em que o nosso país é tão pródigo. É vergonhoso o que estão a fazer ao Senhor Doutor Major Valentim Loureiro. Eu bem o vi na televisão dizer que os jornalistas não sabem porque ele está a ser julgado e tem razão. Uma pessoa não pode ser perseguido, só porque é mal-educado; berra com toda a gente, não deixa falar ninguém e é fanfarrão. É verdade, mas foi a educação que lhe deram na Academia Militar, não é culpa dele.
Primeiro foi o caso das batatas, que eu não acredito. Mesmo que fosse verdade que o homem surripiou umas toneladas de batatas do rancho da tropa, só podia ter sido com boa intenção. Todos sabemos que a batata engorda. E soldados gordos, são alvos mais fáceis para o inimigo. Logo, roubando algumas batatas dos pratos, estava a defender a vida dos seus homens. Deveria ser louvado.
Depois, foi o escândalo dos electrodomésticos, que eu nunca percebi lá muito bem. Não é verdade que se costuma recriminar os políticos por pedir votos e nunca dar nada em troca? Porquê agora crucificar um por trocar varinhas mágicas, microondas, ou leitores de CD por votos? Em que é que ficamos? É-se preso por ter cão e por não ter? Tenhamos juízo… Vivesse eu em Gondomar, não estava a minha casa tão desprovida desses utensílios.
Agora chegou o caso Apito Dourado. Outra coisa por demais incompreensível, a meu ver… Qual é o mal de dar prendas de ouro aos árbitros? Já não se pode presentear os amigos? Se o homem não desse nada a ninguém, era avarento, unhas-de-fome, o diabo a quatro… Dá, é logo acusado de corrupto. E que mal tem os árbitros retribuírem com favores no campo? Isso só mostra que são pessoas bem formadas, sabem pagar os favores. Sempre se disse “uma mão lava a outra”.
Vamos parar com essas parvoeiras e deixar o senhor em paz. Qualquer dia um honrado cidadão pode ser preso por ajudar uma velhinha a atravessar a rua.
Do seu criado, Joaquim Carrapato
Sem comentários:
Enviar um comentário