Fragmento 6
(O Livro do Desassossego)
"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior."
Bernardo Soares (Fernando Pessoa)
Ele escreveu isto para mim, tenho a certeza, num tempo que não era o meu. É esta a magia da grande literatura, escrever no abstracto e tocar cada um em particular. Ser e estar em cada um de nós, sendo universal.
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