Uma fábula com um fundo de
verdade. História de 2009.
Os lobos grandes
O meu trisavô, Zé Ratinho era um homem pequeno de
estatura, uma característica de que ele parecia não gostar muito. Então
compensava esse aborrecido “handicap”,
com um carácter destemido e uma imaginação muito fértil. Sempre que se
aventurava pelos campos de noite, trazia histórias arrepiantes para contar, de
lutas com lobos ferozes e descomunais. Ao ponto de se dizer que “fazia os lobos
grandes”.
Um dia em que precisou de ir a Chanca, a pé como era
costume na época, quando voltava para Seda, armou-se uma enorme trovoada. Tinha
duas hipóteses; ou seguia o caminho normal e levava com a tremenda borrasca, ou
cortava caminho pela Barroca das Serpes, apesar de todos os perigos.
A Barroca das Serpes, ainda hoje, é um lugar soturno.
Naquela época, fins do século XIX, quem por lá se aventurasse de noite,
tornava-se certamente repasto de alcateias.
Ele decidiu-se pelo caminho mais curto, cuidando passar
os perigos antes de a noite acontecer. Mas, ou por ter calculado mal o tempo,
ou por influência da enorme borrasca, o breu da noite deu-se muito cedo, quando
estava mesmo no coração do perigo.
O concerto de sons na noite era aterrador. Sentiu-se
seguido. A sensação de perigo, já tão sua conhecida, invadiu-lhe todo o corpo.
Apressou o passo.
Num momento em que os raios do luar romperam a abóbada
de negras nuvens, viu-o a cortar-lhe a passagem!
Era o maior lobo de que tinha memória. A fera mediu-o,
avançou.
Primeiro lentamente, depois a mata-cavalos. Fez o
salto, a enorme bocarra escancarada. O meu pobre bisavô, só teve tempo de
esticar o braço. Enfiou a mão pela garganta do bruto, chegou ao outro lado,
agarrou e puxou-lhe o rabo. E o lobo ficou virado das “avessas”.
- Só visto! - Contava ele…
- j a godinho -
Sem comentários:
Enviar um comentário